segunda-feira, 20 de abril de 2020

Lendas escoteiras inesquecíveis. Não é proibido chorar.


Lendas escoteiras inesquecíveis.
Não é proibido chorar.

Obs. Baseado no meu conto o Ultimo por do sol, fiz um resumo da história de Waldo, meu escoteiro, que o câncer pegou de jeito e ele já nos seus últimos dias com aquele espírito indolente me pediu para ir ao seu último acampamento. Sonhava levar para o céu a visão incrível do ultimo por do sol nas Escarpas Cintilantes. Estava no programa da Tropa. Seus pais relutaram, e eu insisti que fosse. Não poderia negar. No segundo dia de campo vi que ele quase não participava das atividades, mas ajudava na cozinha e capengando buscava água na nascente do Rio das Flores. Fez uma bela cadeira. Sentava e fechava os olhos. Seus lábios entreabertos pareciam sorrir. No penúltimo dia vi que ele respirava com dificuldade. – Waldo, eu vou levá-lo para sua casa. – Chefe nem pensar. Me leve agora até as Escarpas Cintilantes. Meu tempo está se esvaindo. – Chefe! Será meu último por do sol! Danado de menino, meu coração sangrava e uma vontade enorme de chorar.

Fui sozinho com ele. Em principio foi andando depois o vi fraquejar. O coloquei no colo. Uma palha de tão magro. Em menos de meia hora chegamos. Sentei junto com ele na barranca que dava para todo o Vale dos Sinos. Um espetáculo a parte. Deviam ser umas cinco e meia da tarde. Chefe eu posso fazer meu último pedido? Claro meu jovem irmão escoteiro. E ele com a respiração difícil falando com dificuldade me disse: “Quando eu estiver ido para a terra dos meus ancestrais no campo santo, eu não quero que cantem a canção da despedida. Cantem todas aquelas alegres que sempre cantávamos, para que eu tenha boas lembranças”. O sol foi aos poucos se escondendo atrás das montanhas do Grilo Feliz. Waldo sorria. Não tirava os olhos. Eu engasgado. Danação! Eu não era como ele. Estava difícil aguentar. Queria chorar e não podia. Não podia chorar naquele instante. Não podia! Eu sabia que eram seus últimos momentos. Waldo me olhou. Piscou os olhos e me disse – Chefe foi a maior alegria que já tive. Vou levar para sempre esta lembrança comigo. Obrigado Chefe. Obrigado. E no seu último suspiro me deu um Sempre Alerta. Foi aos poucos deitando no meu colo. Esticou suas perninhas secas. Waldo morreu sorrindo no meu colo naquele anoitecer frio de junho ali no seu sonho... As Escarpas Cintilantes. Ficou imóvel como se estivesse dormindo.

Fiquei estático tremulo e chorando por muito tempo abraçado ao corpo de Waldo. Alguém bateu no meu ombro. Olhei e não vi ninguém. Lá onde o sol se pôs vi uma nuvem branca brilhante que logo desapareceu. Desci as escarpas com ele no colo. Uma eternidade até chegar ao acampamento. Uma dor profunda. Toda a tropa chorava. Voltei para a cidade. Não chorava mais. Meu coração estava partido. Minha vontade não era minha. Naquele momento achei que eu também tinha morrido com o Waldo. No dia seguinte estávamos todos na sua exéquias. Cantamos ao som de um violão maravilhosamente dedilhando pela Escoteira Martinha o Stoldola, Avante Escoteiro, A árvore da Montanha, Lá ao longe muito distante e tantas outras. Todos cantavam com vigor escoteiro. Muitos choravam. Eu também. Não dava para segurar. Os anos passaram. Nunca me esqueci de Waldo. Nunca me apareceu em sonhos. Nunca falou comigo em espírito. Deve estar feliz, muito feliz em Capella, a terra dos seus ancestrais.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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