segunda-feira, 13 de abril de 2020

Lendas escoteiras. Tobruk - O sonho não acabou.




Lendas escoteiras.
Tobruk - O sonho não acabou.

... - Conta-se que Baden-Powell quando fundou as bases do escotismo em 1907 que o inicio do movimento foi entre meninos pobres. Aos poucos viu que economicamente ouve uma mudança social entre eles. Hoje ele está lá no céu vendo que espiritualmente ainda existem rapazes tão pobres como naquela época. E são eles que mais necessitam do escotismo! Você é meu convidado para ler e comentar!

- Apenas um menino igual a muitos. Chamava-se Juliano Santos. Apelidado de Tobruk. Magro, roupas remendadas, diziam que sua vida não iria durar. Pai pescador, mãe faxineira. Tinha meses que não ganhavam um tostão. Tobruk gostava do apelido. Nem imaginava que era uma cidade perdida no Egito e que ficou famosa na Segunda Guerra Mundial, palco da batalha do Afrika Korps do Marechal alemão Erwin Von Rommel contra o Major Donald Craig. Mas isto é outra história. Tobruk tinha dificuldades de locomoção. Uma perna mais fina e menor que a outra. Seu rosto tinha marcas de quem sofreu paralisia facial e que agora estava recuperando. Tobruk era um menino de coração de ouro. Nunca se preocupou com sua aparência. Na escola muitos ficavam longe dele. Diziam que tinha doença contagiosa e poderiam pegar. Ele se sentia só, sem amigos, mas mesmo assim sorria. Um sorriso amarelo que só de ver dava vontade de chorar.

Zé Outeiro ficou amigo dele. Zé sonhava ser Escoteiro. Os dois se encontravam na praça para contar causos e Zé só falava nos escoteiros. Tobruk sorria ao ver Zé falar. Zé e ele sabiam que nunca poderiam ser um. Tinha que pagar, comprar uniforme e coisas para acampar. Tudo tinha taxa e as despesas enormes. Os dois assistiam as reuniões “trepados” em um pé de Jequitibá próximo ao pátio de reuniões. Zé dizia que gostaria de ser da Touro, Tobruk sonhava ser de qualquer uma. Ria do Monitor a exigir postura e garbo. Cantava com eles. Choravam quando partiam para o acampamento. Quantos jogos aprendeu? Aprendeu nós, semáforas, aprendeu até um percurso de Gilwell quando a patrulha escolheu o Pé de Jequitibá para desenhar.

Zé foi para o nordeste com sua mãe de mudança e disse que lá seria escoteiro. Um dia Tobruk tomou coragem e pediu sua mãe para levá-lo. Mulher simples, humilde, olhando os brancos de cabeça baixa nunca disse para Tobruk que os negros não eram bem vindos em certos lugares. Não foi mal tratada. O Chefe foi educado, mas disse que tinha pouco tempo e deu para ela as normas, os valores e pediu um atestado médico. Afinal a imagem dele deixava a desejar. Voltou para casa amargurado. Como pagar? Como tirar um atestado médico? Difícil, até mesmo o barraco era emprestado por uma vizinha amiga de sua mãe. Tobruk voltou a sua morada no alto do Pé de Jequitibá. Um ano, dois e Tobruk fez quinze anos. Precisava trabalhar. Ninguem o aceitava nem como aprendiz. Seu aspecto não era agradável e sendo negro pior ainda. Nunca abandou seu escotismo de sonhos, seu Pé de Jequitibá. Cresceu com muitos que foram para os seniores, e aprendeu a amar os novos que chegaram à patrulha Guará.

Tobruk sentia saudades de Zé Outeiro. Amigos de causos ele fazia falta. Polaco era o Chefe. Sabia tudo. Desde menino foi Escoteiro e hoje engenheiro químico brincava de correr pela floresta, catar vento nos vales, pegar estrelas no céu. Era um sonhador. Notou Tobruk no alto da árvore. – Vem cá meu jovem, vamos conversar. Foi um dia mais feliz de sua vida. Tobruk entrou para os Guarás. Um mês dois e o Chefão o chamou. – Meu jovem, você está sob a proteção do Polaco. Não faça besteira e o jogo para fora ou para a prisão. O Chefe Tomás reclamava: - Ele paga tudo e isto não está certo. Aqui não tem lugar para negro e pobretão.

Reclamar com o Chefe Polaco? Criar inimigos? Calar e aceitar? Foi assim que Tobruk viu que escotismo era para ricos, pobres não tem vez. Se tiver alguém que interessa ele fica se não que se dane. Tinha mensalidade tinha taxas para acampamentos, para os grandes nacionais. Ninguem se preocupava com ele e com outros que um dia poderiam ser escoteiros. Se tem paga se não tem dá o fora. Soube que sua mensalidade no órgão nacional foi perdoada. Tinha uma norma para os pobres e nada seria cobrado se ele pudesse provar. Mas só isto. Para alguns chefes ele não servia para nada. O Chefe Polaco sorria, cativava, disse a Tobruk que estudasse muito, que um dia pudesse provar que ele era alguém, que lhe dessem respeito e afeição. Era seu direito. Seis meses depois Tobruk saia de uma reunião de Patrulha, feita na sede, pois na casa do Lancaster sua mãe não gostava dele.

Tobruk acostumou com tudo. Já não revoltava e aceitava o que a vida lhe reservou para seu destino. Na Rua do Coqueiro três meninos negros passaram correndo. Um deles o jogou ao chão. Ao se levantar um carro patrulha parou. Desceram atirando. Tobruk morreu na hora. Quando o viram de uniforme escoteiro tentaram mudar a cena. Uma arma foi jogada aos seus pés. O sangue se espalhava pela calçada. Ninguem parava todo mundo com pressa a sair daquela emboscada da morte de um jovem que a vida não tinha reservado um final feliz. Chefe Polaco chorava na cerimônia fúnebre. Abraçou sua mãe e seu pai e disse que só Deus podia entender o destino de Tobruk, um menino cujos sonhos o vento levou!

Sonhos de meninos que não se realizam. Alguns que podem não querem. E os que querem muitas vezes não podem. Quem sabe estamos nos tornando demasiados respeitáveis e esquecemos que o escotismo não é só para os rapazes bons. Não era isto que pensava Baden-Powell? Ele repetia sempre que o movimento é para os rapazes que dele necessitam. Afinal o escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e, se economicamente ouve uma mudança social entre eles, espiritualmente ainda existem rapazes tão pobres como naquela época. E são eles que muito necessitam do escotismo!



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