quinta-feira, 9 de abril de 2020

Lendas Escoteiras A última estação de um trem.




Lendas Escoteiras
A última estação de um trem.

... – A última estação... Foram tantas! Quantas vezes sentado no banco da plataforma eu tentava ler pensamentos dos que iam partir e outros chegando... Um conto? Não sei... Quem sabe uma pequena verdade cujo final nunca soube o que aconteceu na última pagina. Um dos meus melhores contos... Peguem seu lugar no banco da Estação e viagem comigo nesta história sem um ponto final!

- Os sonhos às vezes são como ventos que terminam sem a gente saber o final. Esperando o Vírus passar vi na lembrança a menina a chorar na estação quando seu amado se foi. Pequena história... Um breve espaço de tempo. Apenas um trem soltando fumaça branca em uma estação perdida em qualquer lugar. Voltava de meu périplo no campo, rotina comum a procurar a paz de dias difíceis que iam chegar. Um trem uma mochila e lá fui eu a “escoteira acampar”. Amava dormir sob o manto das estrelas e ter o céu como barraca. Sorria ao pisar na grama verde das campinas sentindo o cheiro da madressilva, gardênias cravos e lavanda... De olhos fechados deixava os respingos esvoaçando pela queda d´agua do Riacho. Cozinhava em um pequeno fogo... Conversava com a floresta e os pássaros. Mas sempre chega a hora de voltar. Sentado em uma pequena parada de trem de uma estação pequena de um modesto arraial, aguardava o noturno das onze que diziam nunca se atrasar. Cansado ouvia o tic tac do telegrafo matraqueando sons e mensagens que corriam pelos fios criptógrafos numa linguagem simples que o Morse um dia inventou. Sinais curtos e longos um “tatatá” gostoso que me fazia lembrar os meus tempos de sinaleiro. Não tinha pressa... Nunca tive!

- Aos poucos uns minguados passageiros chegavam calados olhando ali e acolá. Um trem de carga passou sob os olhares vigilantes do Chefe da Estação. Abrindo os olhos e ouvidos podia-se ouvir o som do rio caudaloso que corria no vale encantado do Rio Doce. O trem que subia o rio chegou mansamente. Não era o meu. O Chefe da Estação com seu arco deu instruções ao maquinista que treinado não teve duvidas para enlaçar. O barulho quieto da fornalha soltava fumaça quente no ar. Eu adorava aquilo. Olhava hipnotizado a beleza de um trem de ferro que em breve iria sumir engolido pela modernidade. Foi então que avistei um casal. Jovens. Parados em frente à entrada do vagão de primeira classe. Um olhando para o outro. Não diziam nada. Ela só tinha olhos para ele encharcados de lágrimas de amor. Ele tristonho não tirava os olhos dela. – “Eu volto para te buscar” falou tristonho. Ela chorava baixinho. – Nunca vou te esquecer meu amor. O último apito, um beijo simples, um roçar de lábios sedentos que não queriam se separar.

- O trem deslizava sobre os trilhos despedindo da estação tristonho. No amanhã ele voltaria para descer o rio. O jovem deu seu último adeus, correu subiu nos degraus de seu vagão e ficou ali de mãos estendidas acenava pensando que seria um breve e longo adeus. Ela sabia que não. Sabia que ele nunca mais iria voltar. Em pé olhava com um tremor no corpo nas mãos os olhos cheios d’água dizia: - Leve o meu sonho com você! Tristonha não tirava a vista do trem que partia apitando até sumir de vista na curva do rio. Seu amor partiu, seu coração chorava.  Um silêncio tomou conta da plataforma vazia. Eu só ouvia o tic tac do telegrafo e os soluços da bela moça que havia perdido seu grande amor. Calado nada dizia. Não tinha nada para dizer. Ela estática não saia do lugar. Perdida em uma estação de trem o seu mundo desmoronava. O meu chorava com ela. Ela se virou e me viu. Seus olhos estavam marejados de lágrimas. Eu de calças curtas com meu chapelão tirei a mochila ficando em pé respeitosamente. Queria me solidarizar. Não sabia o que dizer. Ela deu um pequeno sorriso levantando o braço dizendo baixinho “Sempre Alerta”! Respondi do mesmo modo em posição de sentido tirando o meu chapéu. Lentamente ela caminhou na estradinha poeirenta ao lado dos trilhos que devia ser o seu destino final!

Senti-me só, impressionado com a imagem de uma partida e a dor de alguém que perde o sonho de um grande amor. Olhei ao redor, vi de novo a estação vazia. Uma pequena lua desabrochava no horizonte perdida entre o brilho das estrelas. Uma leve brisa soprava e eu sem notícia do meu trem. O Chefe da Estação se aproximou. Educadamente me disse: - Um atraso de quatro horas. O ultimo trem desencarrilhou! Muitos feridos outros mortos! Não disse nada. Pensava como ela iria saber que seu amado nunca mais iria voltar. Ela em ser lar devia estar chorando acreditando que um milagre poderia acontecer. Quem sabe Deus ouvindo suas preces o traria de volta. Mas destino é destino e poderia ser melhor assim. Dormitava sozinho naquela estação de trem. Deu para ouvir alguns trovões no céu. A chuva mansa chegou. Eu gosto da chuva, ela me trás lembranças e uma paz que me revigora. Ao longe ouvi o apito do trem. Era o meu que chegava. Como um pássaro negro gigante adentrou na estação de trem rangido os freios, soltando fumaça branca no céu. Calmamente parou para respirar em sua chaminé o calor que ainda resistia em parar.

- Um retorno sem consequências. Na minha morada meu amor dormia. Entrei de mansinho. Fui olhar meus filhos que adormecidos sonhavam com anjos do céu. Abracei minha amada de muitas vidas e deitei ao seu lado. Ela sorriu. Pensei no amor da outra que tinha ido e nunca mais ia voltar. Sina marcada. Destino escrito no livro da vida. Nada do que se tem a gente pode manter para sempre. Sonhos que não foram vividos. Estrelas piscantes que se mantém no universo através dos tempos. Esperanças que nunca se acabam. Ainda deitado ao lado da minha amada, com as mãos entrelaçadas no peito eu chorava baixinho. Mais um dia que se foi. A dor da saudade de alguém que achou que teria e nunca teve ninguém.

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