domingo, 24 de março de 2019

Lendas Escoteiras. O Tribunal de Honra.



Lendas Escoteiras.
O Tribunal de Honra.

                               Tito debaixo da Aroeira da Sede Escoteira meditava. Nos seus quatorze anos e três de monitória ainda se sentia como um recruta na sua responsabilidade como Monitor da Águia. Nunca pensou que na tropa alguém poderia fugir do seu compromisso da Lei e da Promessa feita um dia em frente à bandeira, a tropa ao seu Chefe e a Deus que ele tinha como seu Chefe universal. Logo Danton? O que o levou a fazer tamanha barbaridade? Danton, por favor, diga que não é verdade! Danton queria chorar dizer que não sabia como tudo aconteceu e jurou parar...

                                Tropeiro sempre foi o Monitor mais sorridente da tropa e amado pelos patrulheiros da Patrulha Lontra. Não era o mais antigo, mas ficava apenas atrás de Capistrano. Esperou pacientemente o sinal abrir para atravessar a Rua Peçanha e seguir até a Sede Escoteira. Nunca pensou que um dia poderia julgar absorver ou condenar Danton. Hoje Tropeiro estava arrasado. Danton era seu amigo desde os tempos de lobinho. Foi seu Primo na Matilha Cinza e morava na mesma rua da sua casa. Nunca fugiu das suas responsabilidades de Monitor da Onça Parda, e lembrava como enfrentou tempestades, ventanias, dificuldades mil nos acampamentos que fez.

                               Soares Cascudo nunca incomodou com seu apelido. Era um perfeito Monitor que sabia sorrir a qualquer hora e nas dificuldades. Olhando as reuniões que fazia com sua Patrulha Os Gaviões muitos diriam que ele não era o Monitor tamanha fraternidade com que demonstrava junto aos demais. – Mãe, o que eu devo fazer? Dona Nina olhou para Soares Cascudo e custou para responder. – Filho são responsabilidades que cada um de nós tem a hora de enfrentar. Pense no que vai fazer ou dizer, aja com lealdade, lembre-se que Danton sempre o tratou com respeito.

                               JR Coruja nem de longe parecia àquela ave a quem chamavam de professor de todas as aves. Moreno quase negro nunca se sentiu fora do quadrado da fraternidade que imperava na tropa escoteira. Foi eleito por unanimidade no ano passado como Monitor e aceitou impávido o cargo desejando mostrar todos da Pantera que era capaz. Seu pai o encorajou quando JR Coruja disse para ele da eleição. – Filho, a vida é feita de desafios e este chegou para você. Enfrente, mostre que é capaz. JR Coruja orgulhava de seu pai um simples Contador das Empresas National. Amava com todas as forças sua mãe e seu pai com quem aprendeu a respeitar e ser respeitado.

                                Os quatro Monitores não tinham uma ideia fixa do que dizer fazer e votar na maior de todas as reuniões que já fizeram no Tribunal de Honra de sua tropa. Acostumados a discutirem assuntos banais, aprovarem seus programas de atividade, dar um puxão de leve na orelha de alguém agora não. Teriam que tomar uma atitude com Danton. Porque ele chegou aquele ponto? Afinal não tinha bons amigos para se aconselhar ou aprender que o Escoteiro é puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações?

                                 O Chefe Castor foi o primeiro a chegar. Cedo ainda abriu a sede e não tinha ninguém no pateo. Fez uma revisão no programa de reunião sem muita pompa quem sabe dirigido pelos monitores sobre adestramento de cálculos de altura, distancias e passo duplo. Deixaria para os monitores os jogos e ele sabia que iriam escolher os mais divertidos que já jogaram. Lembrou quando no ano anterior pediu uma opinião das patrulhas sobre como deveria ser os jogos a serem aplicados no ano seguinte. O tema foi motivo de uma gostosa conversa dos monitores no Tribunal de Honra. :

- JR Coruja o Escriba do Tribunal escreveu no Livro de Ata: “Conforme preposição dos monitores fica decidido que a partir de hoje o Chefe Castor fica encarregado somente dos chamados “Jogos Surpresa”. Cada Patrulha mensalmente dará sugestões dos jogos a serem aplicados. Nenhum jogo terá a formalidade de obrigação e sim jogado espontaneamente. Deve-se dar preferencia que o jogo seja jogado pela simplicidade de jogar e divertir e o caráter competitivo virá em segundo lugar”.

                                 O Chefe Castor sorriu ao lembrar, mas logo pensou no que diria aos monitores sobre Danton. Ele próprio não sabia como agir. Era um novato na arte de aconselhamento de jovens que enveredaram pela droga. Isto mesmo. Danton o procurou para dizer que estava viciado no “craque”. Impossível pensou. Logo ele? Filho de uma família bem quista no bairro, seu pai advogado e sua mãe enfermeira Chefe no Hospital Santa Elísia? Conversou várias vezes com os pais e não sabia como aconselhar e sugerir um caminho seguro para Danton.

                                 As patrulhas cobraram dos monitores alguma medida para evitar que o fato se tornasse normal na Tropa Escoteira. Foram feitas duas reuniões preparatórias do Tribunal de Honra e muito se falou menos o que fazer. Danton não ia mais as reuniões e Soares Cascudo sugeriu que o assunto fosse finalizado, pois praticamente Danton demonstrava não ter mais interesse em permanecer na tropa Escoteira. Os demais ficaram em duvida. Colocar debaixo do tapete?

                                Por questão de caráter e ética ele sabia que deveria aconselhar aos monitores alguma punição ou ação. Mas qual? Deixou a critério dos Monitores. Foi uma surpresa quando viu chegar o Dr. Marcelo sua esposa Dona Neném e Danton. – Foram diretos: - Chefe Danton vai se internar em uma Instituição própria para desintoxicação. Viemos aqui pedir desculpas e entregar o pedido de demissão de Danton! O Chefe Castor estava surpreso com tudo aquilo. Olhou para Danton que chorava. Afinal foram três anos de lobo e três de escoteiro. Não era para menos.

                                O Tribunal de Honra teve início impreterivelmente às dezoito horas. Todos os escoteiros aguardavam ansiosos no pátio esperando o veredito. O Chefe Castor passou a direção do Tribunal para Tropeiro o mais antigo e Presidente do Tribunal. Uma oração, uma leitura da ata anterior e...

“E você? Se fosse Monitor o que iria decidir?” Como dizia o poeta, não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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