segunda-feira, 25 de março de 2019

Lendas escoteiras. Paixão além da vida.



Lendas escoteiras.
Paixão além da vida.

Nota - Um amor impossível, uma aceitação difícil entre duas almas que se amam. Viveram felizes por muito tempo. História de vida que serve como exemplo para todos nós.

                     Três patrulhas. A quarta só no ano seguinte. Tropa nova, com menos de um ano e seis meses de atividade. Paulo Tostes era um Chefe novo, vinte e três anos. Resolveu um dia ser Escoteiro. Nunca foi. Achou nos guardados do seu pai um livro chamado Escotismo Para Rapazes de Baden Powell o fundador. Leu em uma noite. Gostou. Seu pai quase não falava. Vivia em uma cadeira de rodas. A mãe morrera há anos. Ele arrimo da família. Sempre pensou em ir embora de Lua Verde. Só conseguiu terminar o segundo grau. Cidade pequena, menos de dez mil habitantes.

                    Sem perspectivas de crescimento profissional. Não podia deixar seu pai. Para sobreviverem ele montou uma quitanda. Pequena. Na frente de sua casa para não pagar aluguel. Algumas verduras, frutas, doces, e quando pode comprar uma geladeira, refrigerantes e algumas guloseimas geladas. Dava para seguir adiante a cada mês. O “fiado” era a parte mais difícil. Como negar ao Seu Romerildo? A Dona Eufrásia e a tantos outros? Eram como ele. Nem sabiam o que iam comer amanhã.

                    Paulo Tostes amou o livro. Releu diversas vezes, pensou com seus botões. - Porque não ter uma Tropa Escoteira aqui na cidade? Não seria tão difícil. E assim fez. Mãos a obra. Convidar meninos foi fácil, a sede também não foi difícil. Ficaram num pequeno porão da Igreja Matriz. Mas Paulo Tostes não entendia nada. Começou na raça, nem sabia que existia autorização, alguém responsável acima dele.

                    Ele e os Raposas, os Tigres e os Leões eram os escoteiros mais felizes do mundo. Amigos, irmãos, juntos sempre. O populacho da cidade adorava vê-los correr pelos campos, parecia um bando de meninos loucos a fazerem suas aventuras fantásticas. Paulo Tostes um dia recebeu uma carta. Era do Grande Chefe Escoteiro da Capital. O convidava para um curso. Todas as despesas pagas. Porque não ir? A quitanda deixou na mão de Quinzinho e Marquinho. Dois Monitores que sempre o ajudavam nos sábados pela manhã quando a quitanda estava cheia.

                   Partiu no trem noturno das onze para a capital. Quinze horas de viagem. Na chegada se informou onde era o Zoológico. Pegou o bonde. Desceu no final e dai seguiu a pé. Eram mais seis quilômetros. Nada que assustasse Paulo Tostes. Quando chegou viu muitos chefes. Bastante. Gostou do curso. Não gostou de alguns. Prepotentes, vaidosos, cheios de arrogâncias. Pensou consigo se eles sabiam que pertenciam a uma fraternidade. Não era assim que BP dizia em seu livro?

                   Aprendeu muito. Resolveu que deviam ter uma Alcatéia. Mas quem convidar? No trem quando retornava pensava a respeito. Uma jovem morena sentou ao seu lado. Paulo Tostes teve duas namoradas. Pouco tempo com elas. Nunca pensou em casar. Novo apenas 23 anos ainda tinha uma vida pela frente. Agora com seu pai entrevado não tinha esse direito. Ela o olhou de cabeça baixa. Paulo Tostes viu que chorava. – Por quê? Perguntou. Ela não respondeu. Acordou com ela dormindo em seu ombro. Reparou que era muito bonita, mas tinha o olhar envelhecido por uma vida de lutas.

                    Durante todo percurso da viagem ela chorou. Paulo Tostes insistiu. Ela nada dizia. Só disse que deveria ter morrido e Deus quis assim. Que seja. - Vai para onde? Sem destino respondia – Sem destino? Não tem amigos, parentes, nada? Não tenho. Quando chegou à estação de Lua Verde tinha resolvido. Desça comigo. Ficará uns dias em minha casa. Ela assustou – Descer? E sua família? Não se preocupe. Uns dias em Lua Verde você irá colocar a cabeça no lugar e saberá aonde ir e o que fazer. Ela desceu. A cidade inteira na janela vendo Paulo Tostes e a bela morena. Quem era? Ele casou? Ele não disse nada.

                   Sua vida continuou. Seu pai nem perguntou. Os escoteiros nada disseram e nem perguntaram, amavam seu Chefe e sabiam que ele nunca tomava decisões erradas. Sua vida mudou. Madalena era uma mulher perfeita. Cuidava da casa. Fazia tudo. Os olhos de seu pai brilhavam quando ela sorria para ele. A cidade inteira comentando. E a Tropa? Alguns pais querendo tirar os filhos. Os comentários não eram bons. Uma mulher da vida, só podia ser.

                   Paulo Tostes resolveu casar com Madalena. Ela disse não. Por quê? Você não tem ninguém. – Ela chorando contou a verdade. Fora mulher de vida na capital. Gostava de um soldado. Ele prometeu casar com ela. Morreu em tiroteio com bandidos. Chorou muito e o pior, pegou AIDS. Sim, isto mesmo! Ainda em fase inicial.  Ele manteve seu pedido. Não importa. Quero você como minha mulher. Casaram-se na Igreja de São Judas Tadeu. Cerimônia simples. Ele uma vizinha e as três patrulhas escoteiras. Casou de uniforme.

                   Ela feliz. Sorria. Viveram muitos anos. Madalena se tornou Akelá. Os lobinhos adoravam sua Chefe. Paulo Tostes e Lena nunca fizeram sexo. Era um amor diferente. Madalena morreu com quarenta e oito anos. No seu velório três patrulhas um Chefe e uma vizinha. Dizem que virou santa. Não sei. Mas seus lobinhos hoje homens feitos nunca esqueceram a Chefe que tiveram. Paulo Tostes chorou por muitos anos. Morreu com sessenta e quatro anos vítima de um tumor no pulmão. Porque se nunca fizeram sexo?

                  Conheci ambos. Sempre quando vou a Lua Verde não deixo de fazer uma visita ao tumulo dos dois. Lado a lado. Escreveram uma lápide simples. Nem sei quem escreveu. – “Aqui jaz, dois amantes que nunca foram. Amaram o escotismo e com ele viverão para sempre no céu!”.


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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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