Lendas Escoteiras.
A lenda do escoteiro fantasma!
Prólogo:
- A vida passa, as histórias ficam e a mente da gente vai pensando o quanto
pode guardar dos tempos que já se foram. Ninguém pode fugir das chamadas do
coração, se necessário estar pronto para a despedida ou um novo recomeço.
Sempre com ânimo e sem lamurias. Dentro de nós mora um encanto que nos dá
forças e nos ajuda a viver. Uma história de ficção, apenas para passar o tempo.
Esta é uma historia que me
contaram em uma noite de gostosa em redor de uma fogueira. Tem histórias que a
gente não esquece tem outras que aproveitam uma invernada com o vento gelado em
noites de inverno e não voltam nunca mais. Quem contou foi um Chefe com uma
barriga enorme que quase não sentar a moda escoteira do lugar. Seu nome? Não
lembro. Assim ele começou: - A historia começa um acampamento em Águas
Formosas, próximo a Estação de Derribadinha da Estrada de Ferro Vitória Minas.
Tínhamos passe livre e explorar áreas desconhecidas fazia parte do nosso
habitat. Sem incidentes chegamos à Fazenda do Conde. Marcos Tulio o proprietário
não estava. Sabíamos que podíamos acampar onde quiséssemos, pois seu telegrama
respondendo a um pedido nosso dizia da sua alegria e satisfação em saber que
escoteiros iriam acampar em suas terras. Completou dizendo que iria retornar
ainda para nos cumprimentar pessoalmente.
Fizemos um programa
simples, um campo suspenso, quem sabe com cozinha e tudo. O Senhor Marcos Tulio
disse que a madeira não ia faltar no bambuzal que lá existia. Marcelinho
colocou no programa um pórtico que ele tinha visto em uma revista. O tempo era
suficiente. Cinco dias quatro noites. Quatro horas após descer do trem estávamos
chegando ao Vale da Serpente. Nostradamus o monitor riu quando soube do nome. –
Bem ele não comentou de serpentes portando acho que podemos acampar sem medo. Nossa
intendência no saco de patrulha estava quase completa. Fazíamos questão de ter
tudo à mão e confiávamos em Lourival (tico tico) nosso intendente. Ele era bom
nisso. Na fazenda Dona Sinhá sabia da nossa vinda. – O Senhor Marcos Tulio informou
da chegada de vocês. Ofereceu um pequeno almoço que aceitamos sem relutar.
Sabíamos que a montagem do campo iria demorar. Gente fina Dona Sinhá. Um belo almoço e pé na
taboa.
O local maravilhoso. Um
mata fechada, grama baixa e na subida da serra uma bela vista apontava. Um
córrego de águas límpidas e transparente próximo onde escolhemos o campo.
Nostradamus comentou que se um dia voltássemos poderíamos trazer água ao campo
da patrulha. Os bambus gigantes iriam servir para isto. Mãos a obra e nosso
campo as oito estava quase montado. No fogão tropeiro Juvêncio o cozinheiro
labutava com um belo sopão. Um cozinheiro fora de série. Anoiteceu, jantamos e
ficamos em volta de uma pequena fogueira. Dormimos cedo. No segundo dia começou
a montagem das pioneirías. Logo fizemos a barraca suspensa o toldo mateiro com
os bancos e mesa. Hora do banho na cascata que formava um belo remanso
divertimos muito. Os peixes brincavam ao redor, muita alegria muita diversão. Juvêncio
nos reservou um belo jantar de linguiças fritas, uma farofa e ovos cozidos e um
pão do caçador.
No segundo dia à tarde o
senhor Marcos Tulio nos visitou.
Simpático e alegre estava de uniforme. Dizia de seu orgulho de ter sido
Escoteiro. Prometeu voltar à noite para uma conversa ao pé do fogo. Mal
acabamos de jantar e ele chegou. Contou que foi Chefe Escoteiro e hoje não
mais. A vida de fazendeiro me tom tempo Em seguida perguntou: - Já viram ele? –
Ele quem? Perguntamos. O Escoteiro Fantasma! Rimos. Ele também riu e disse-nos
para acompanhá-lo. Subimos riacho acima por uns quinhentos metros. Acostumamos
com a escuridão e no caminho ele contou uma historia fantástica. Disse que quando
jovem, um escoteiro da Patrulha avião caiu de uma árvore perto da ponte da
Ravina Seca. Caiu de costas nas pedras do riacho. Morreu na hora. Foi um Deus
nos acuda! Os pais inconsoláveis.
A tropa passou meses sem acampamentos.
O tempo passou. Muitos esqueceram, eu não. Voltamos a acampar aos poucos. Dois
anos depois voltamos novamente aqui. Um medo enorme de encontrar o nosso amigo.
Nonato diziam zanzava nas noites de lua cheia. No ultimo dia quando no Fogo de
Conselho um clarão enorme na mata, levantamos correndo e não vimos nada. Nonato
apareceu de forma gigantesca. Seu tamanho descomunal foi diminuindo, estava de
uniforme e chapéu escoteiro. Sorria e quando abria a boca parecia que um fogo
azul saia de lá. Seus olhos eram enormes. Chispas de fogo nos dois. Corremos a
mais não poder até a barraca. Até o chefe correu. A noite inteira ninguém
arriscou a sair da barraca. No dia seguinte levantamos acampamento as pressas. Nunca
mais voltamos aqui. Não por medo, mas eu não queria encontrar novamente o
Escoteiro Fantasma.
Queira ou não a gente tem
medo de fantasmas, mas aquele relato tinha de ser averiguado. Falei com a
patrulha e eles me deram a maior força só não iriam comigo. À noite fui sozinho
até lá. Afinal Nonato se fosse Escoteiro era amigo e não iria me fazer mal
algum. Na ravina avistei uma bola de fogo e logo depois ela se transformou em
um menino. Sentado pescava com uma vara invisível. Aproximei-me e o chamei. Ele
se voltou, desta vez não dava para aguentar. Seu rosto não tinha mais carne, só
ossos. Tremi e já ia sair em disparada quando ele falou baixinho. – Não vá! Preciso
de um amigo! Contou-me uma historia tão triste que não vou repetir para vocês
para não impressioná-los. Nunca fui herói e nem valente. Quando contei para o
Senhor Marcos Tulio ele sorriu. A patrulha incrédula insistiu em ir até lá. Fomos
no terceiro dia à noite. Na ravina para espantar o medo cantávamos baixinho. Eis
que Nonato apareceu. Agora com rosto normal e afável. Soltava algumas faíscas
pelos olhos e fumaça em suas orelhas. Assustador mas dava para aguentar.
Ninguem disse nada. Ele deu um Sempre Alerta e todos responderam. Tentou
cumprimentar, mas sua mão estava queimando. Vermelhas como brasa.
Perguntei por que estava
sempre em fogo. Ele disse que foi uma escolha sua. Era bom para espantar os
caçadores e pescadores. Ficamos mais três dias e passamos a receber a visita de
Nonato. Ele fez da Ravina Seca sua morada. Disse-nos que amava o escotismo. Agora
em outra dimensão não tinha amigos e ninguém para conversar. O medo acabou.
Chegou o dia do retorno. Nonato tinha os olhos vermelhos. Pedia para voltarmos
sempre. Precisava de amigos. O tempo passou. Voltamos lá muitas outras vezes
até que um dia Nonato disse que iria embora. Seu tempo ali acabou. Despedimos e
ele se foi para sempre. A patrulha resolveu manter a história no anonimato.
Ninguem precisava saber. Nunca contei a ninguém, mas hoje me lembrei de Nonato.
Quanto sofrimento. Espero que ele esteja ao lado de Anjos sobre as graças de
Deus. Sei que vão achar que é invenção e não vou discutir. Mas eu gostaria
mesmo de um dia rever Nonato. Aprendi a gostar dele.
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