sábado, 15 de junho de 2019

Lendas Escoteiras. A lenda do pudim de coco de Gaituba.




Lendas Escoteiras.
A lenda do pudim de coco de Gaituba.

Prólogo: - Sábado dorminhoco, pensativo pensei em escrever. Lembrei-me do pudim de Gaituba, quando fomos a Mantena e nunca chegamos lá. Mas valeu a ideia a aventura na terra da mica, diziam de bandidos, hoje dizem ser uma bela cidadezinha encravada no Vale do Rio Doce princesa do Vale que nunca conheci.

- Não me lembro de quem foi à ideia. Só lembro-me das subidas íngremes das trilhas cheias de pedras e descidas imaginarias para correrias sem saber onde ia dar. Época de aventuras, seniorismo na veia, chefes esquecidos e meninos homens a correr por estradas deste mundo de meu Deus. Não houve preparativos, não precisava. Cada um sabia o que levar e preparar. Quantos dias? Saindo em uma sexta a noite domingo estaríamos de volta. Tãozinho disse que tinha 27 mil habitantes e que um grupo escoteiro havia surgido no lugar. Sabia da cidade, não sabia seu significado. Hoje olhando no Google ele diz: - O nome Mantena é de origem indígena e quer dizer: “Terra boa”, “Solo fértil”. Menos de 200 quilômetros naquela época como me disse Agenor da Padaria São Leopoldo.

- Partimos ás seis da tarde, disse Roseta o intendente que haveria lua cheia prá dar e vender. Carlinho Sucupira havia instalado em sua biscicleta um farol movido ao um dínamo preso no pneu trazeiro. Era novidade. A história dos dínamos nas bicicletas é antiga, em 1888 apareceram às primeiras lâmpadas para faróis de bicicletas alimentadas por um pequeno dínamo. A iluminação iniciava quando a roda começava a girar e aumentando a intensidade no embalo a luz aumenta. Chico Malta disse que estava duro, eu tinha dois réis e mais nada. Lá na mochila presa no quadro da bicicleta havia dois gomos de linguiça que mamãe fez e 150 gramas de arroz. Um pouco de gordura de capado e cinco pitadas de sal. Levei um vidrinho de açúcar e um pouco de pó que papai havia moído na véspera. Os outros levavam iguarias não tão diferentes da minha. Caldeirão, frigideira, alça de pano, coador um facão e duas cordinhas estavam distribuídos pelos demais nos seus cavalos de aço.

- Nada mais nada menos que uma oração antes de partir. Tiramos o chapéu e em pé ao lado da bicicleta pedimos a Deus pela caminhada. Iriamos passar por locais nunca antes navegados. Não havia planos de prancheta, não havia Croquis e nem mesmo um pequeno Percurso de Gilwell para sabermos onde estávamos nos metendo. Sabiamos que era uma região de exploração da Mica, um material para confecção de capacitores, placas de circuitos eletrônicos para computadores muito usados como isolante para equipamentos de alta-voltagens. A exportação na época era muito explorada nos municípios ao redor de Governador Valadares minha cidade onde nasci escoteiro. Pastoril ficou para trás, a estrada terra pura não ajudava. Meia noite e paramos para descansar. Gabiroba roncava. Toninho Molejo também. Acordamos com a aurora despontando. E a estrada? Onde foi parar? Devemos ter tomado rumo diferente. Uma trilha uma pequena estradinha despontava.

- Um café feito no ponto por Chico Malta e pé na estrada. Meio dia... O sol a pino. Calor demais. Chapéu atolado na cuca o suor escorrendo paramos para descansar. E Mantena? Cruzamos com dois estradeiros cara fechada e mal responderam: - É para lá! – Lá aonde? Onde não sabíamos, mas partimos na direção indicada. Escureceu. Hora de uma refeição. Um tropeiro, caldeirão empinado, uma linguiça frita um arroz na moita e a pança encheu. Dormimos ao luar. Domingo era o ultimo dia e nem chegamos à cidade da terra boa. Conselho de Patrulha. E agora? Prá frente ou retornar? Impossível, segunda escola trabalho e altas horas de namoro com Josefa, Estefânia e Rosalva que namorada os seniores e além mais. A comida não dava, a fome apertava. O domingo se foi à noite chegou. Papai Mamãe sabiam de nossas aventuras e acreditavam que íamos voltar. Dormimos. Segunda brava, retorno. Para onde? Várias trilhas daqui e dali e qual escolher? A Silva amiga de guerra não ajudava sem um rumo norte a dizer é por aqui.

Duas da tarde de segunda feira. Mantena era tão difícil assim? Houve época que o Capitão Macedo e sua turma da captura tinham medo de entrar lá. Bandido prá todo lado. Hoje dizem apaziguado cidadezinha linda cheia e coqueiro praças verdes, moçoilas lindas esperando seu príncipe encantado. Avistamos um povoado. Gaituba. Nada mais nada menos que pequenas choupanas feito de pau a pique, barro no pedaço, gente simples e humildes ferramenteiras de enxada a trabalhar para algum dono de cafezal que infestava o lugar. Um buteco. Pequeno, meio sujo, na porta duas taboas serviam de banco para sentar. Lá dentro um balcão. Vazio, em cima dele um pedaço de pudim... Que pudim! De coco? De que? Não importava. A Patrulha ainda sentada nos bancos bicicleteiros não tiravam os olhos da bela iguaria. Desci. Quanto? Cinco réis, disse o butequeiro. Caro, só tinha dois réis.

- Moço! Eu disse, só tem um, não dá para me vender por dois réis? Ele coçou a nuca, unha grande suja, mãos cheias de calos, olhar perdido barba por fazer. – Tá bom! Ele disse. Gabiroba saltou de banda, abriu seu canivete suíço e cortou em seis pedaços. Pequenos, mas dava para tapar um buraco no dente. Coloquei meu pedaço na boca. Deixei-o derreter na língua. Um pedacinho ficou preso no céu da boca. Não mexi um tantinho sequer. Ele caiu e prestativamente minha língua engoliu. A galope pelas trilhas errantes antes do escurecer chegamos ao limite de Crenaque. Daí era menos de duas horas para nossa linda cidade. Cheguei a casa as duas da manhã de terça feira. Prova de matemática já era. Padre Pedro haveria de falar. A noite de quarta nos reunimos na Praça Serra Lima. Tristonhos. Não era costume não cumprir o determinado. Vamos voltar? Perguntou Carlinho Sucupira. Tãozinho o sênior mais velho pensou e pensou. Melhor esperar quem sabe um dia?

Nunca fui a Mantena. Hoje sei que uma rodovia liga Valadares até esta bela cidade. Hora e meia sem correr. Mas nossas aventuras ciclísticas nunca deixaram de acontecer. Bom mesmo foi em Resplendor, e em Aimorés onde Chiquinho Fortunado Monitor da Patrulha Águia nos convidou a sua casa e comemos um lindo e delicioso pudim de amora. Falei prá mamãe e ela sorriu. Um dia vou fazer um aqui para você. Eita tempos de corredeiras, estripulias, de andadeiras por estradas sem chão, sem mistério a voar nas descidas dos pedaços de trechos desconhecidos sem saber o que encontrar.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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