segunda-feira, 27 de maio de 2019

Lendas contadas ao redor do fogo. “Dança com Lobos”.




Lendas contadas ao redor do fogo.
“Dança com Lobos”.

Prólogo: - “O Lobo segue seu amigo escoteiro, pois nele confia e acredita na sua bondade. Ele não sabe onde o jovem Chefe Escoteiro está indo, segue-o por seguir sem rumo determinado, somente acreditando que uma grande amizade acabou de nascer”...

- Foi há muito tempo... Tempo demais que ficou preso em um passado que já se foi. Ele sabia de suas escolhas, gostava de acampar a escoteira... Aquele que anda só... Sabia aonde chegar até que um dia se perdeu no Desfiladeiro da Águia Real da cabeça branca... Viu uma floresta imensa e pensou que ainda era uma floresta virgem. Era uma floresta diferente de tudo que ele havia visto. Árvores de todo tamanho misturadas com orquídeas, cipós, samambaias, arbustos e ervas. O Chão sempre molhado, raízes e mudas disputando o espaço. Viu exames de insetos, barulhos de pássaros e sapos. Sentiu o cheiro forte dos répteis e mamíferos que apareciam a cada passo ao andar pela selva. Assustadora, escura, pois apenas uns poucos raios de luz conseguiam furar a cobertura cerrada das folhas galhos e flores...

O Jovem Chefe Escoteiro não tinha medo nem receio de onde pisava. Não fora a primeira vez e nem seria a última. Com seu facão Limoeiro abria picadas com uma audácia impetuosa na sua intrepidez de aprendiz de mateiro a fazer descobertas incontidas no seu ideal de aventureiro à procura de descobertas que nunca viu e que iria sorrir ao encontrar. Peso leve, mochila costeira um facão na algibeira e um bornal com pães e sal para um assado sem pressa e sem hora de chegar. Na argola direita do cinto escoteiro, um cantil ao lado de uma faca mundial, protegida em uma capa de couro robusta de um touro Marruá, quem sabe do Curtume da Beira do Rio Amarelo.  

- Saltou uma pequena corredeira de águas cristalinas e viu um sopé de uma montanha não tão alta, mas esplendidamente soberba para acampar. Ajeitou o Chapéu de três bicos, abas retas indicando o caminho a seguir. Deu um toque na mochila e ajeitou o bornal iniciando a venturosa subida... E eis que de repente, surgiu na sua frente um enorme Lobo Cinzento, parado, olhar fixo sem piscar, pensando preocupado quem se arriscou a entrar em seu habitat. O Jovem Chefe Escoteiro sabia o que ele estava a olhar. Era um enorme Lobo Cinzento, daqueles prontos a caçar dia e noite, com olfato apurado e visão perfeita. Seus olhos que ao nascer eram azuis agora ficaram vermelhos, assustando assim algum estranho que se metia a caçador do lugar.

- O Jovem Chefe Escoteiro sentou em uma pequena saliência do terreno e ficou sereno, impassível, olho no olho, pois sabia e conhecia o terreno onde nunca montou barraca, mas como bom mateiro era conhecedor das artimanhas do lugar. Devagar, calmamente, passo a passo tirou do bornal um gomo de linguiça, colocou a dez pés de onde estava... Não tirava os olhos do Lobo, um futuro amigo e seria ali queira ou não seu protetor. Amigo de todos era também dos animais... O lobo com seu entrejeito matreiro, passo a passo se aproximou. O Jovem Chefe Escoteiro sorriu e cativou seu novo amigo que de um salto devorou seu novo alimento e num sinal de desafio, sentou nas patas traseiras e esperou... Mais um naco!

- Sorriu... Não tinha mais, levou a mão esquerda na orelha do animal. O Lobo Cinzento das montanhas do Brasil não se assustou. Deixou-se afagar e o Jovem Chefe Escoteiro seguiu o seu caminho, passo a passo na pequena trilha da subida e... O lobo Cinzento o seguiu não demonstrando temor receio confiando no jovem de uniforme que nunca viu e quem sabe nunca mais iria ver. Aquartelado ao sopé da montanha, fez um cozido de um esquilo, dividindo com seu novo amigo o Lobo Cinzento da Montanha da Águia Real. Ficou ali por dois dias... Dias de encantamento, de amizades... Conheceu a Águia Real da cabeça branca, poderosa, imponente quando em voo majestoso pelo céu cor de anil. Sabia de sua força e independência e a amizade quem sabe foi alcançada pelo seu sorriso pelo coração amigo e tantos mais.

Lembrou-se dos dois bem-te-vis que esvoaçaram ao seu redor... Não tinha nada pra lhes oferecer. Sorriu a noite a beira da fogueira com a visita de Lagarto das Cavernas onde habitam os morcegos gigantes não tão grande e nem pequeno, que o saudou com a língua para fora e ele sabia que estavam atentando cheirar e reconhecer seu novo morador das terras distantes. Foram dois dias lindos. Seu maior amigo o Lobo Cinzento da montanha o acompanhava onde quer que fosse. Chegou a hora de partir... Olhou para seus amigos e quase chorando recitou: - “Ah, se já não perdi a noção da hora, se vocês amigos já jogamos tudo fora, me contem agora com hei de partir... Se fiz amizades, se juntos esquecemos os desvarios, se rompi com o mundo, queimei o passado, me digam prá onde é que eu ainda posso ir”!

- Despedir de cada um demorou horas, chorou cabaças de saudades e partiu... Com o Lobo Cinzento atrás e com lágrimas nos olhos pensando que nunca mais o deixaria partir. Como em sonhos selvagens lembrou-se de Duas Meias o Lobo da planície, que simbolizava o mundo selvagem sendo aos poucos assimilado por um tenente, que ali era representado por um simples Jovem Chefe Escoteiro que nem era morador do lugar. Ele sabia que não estava sozinho. Que as sombras dos amigos que fez iriam segui-lo por toda a vida. Ele sentia no íntimo do seu coração, através de olhares ansiosos, o gaguejar do amigo Real, uma águia que não sabia falar e um Lagarto sem nome que ficaria através dos tempos naquela região onde o homem ainda não tinha pisado, num território hostil e ele sabia que ao partir iria sentir para sempre enormes saudades! Chorou quando adentrou nas matas e o seu amigo Lobo Cinzento sumiu!

“A terra é algum tanto melancólica, regada de muitas águas, assim de rios caudais, como do céu, e chove muito nela, principalmente no inverno; é cheia de grandes arvoredos que todo o ano são verdes; é terra montuosa, principalmente nas fraldas do mar, e de Pernambuco até a Capitania do Espírito Santo se acha pouca pedra, mas dali até Serra das Vertentes são serras altíssimas, muito fragosas, de grandes penedias e rochedos”. (Fernão Cardim).

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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