domingo, 25 de novembro de 2018

Contos de Fogo de Conselho. Um milagre chamado Amizade!



Contos de Fogo de Conselho.
Um milagre chamado Amizade!

Prefácio: - Há um milagre chamado “Amizade”. Você não sabe como ela aconteceu ou quando começou, mas você sabe a alegria que ela traz e percebe que a “Amizade” é um dos dons mais preciosos que o ser humano possui.

                     Nunca esqueço aquele mês de maio de 1961. Desci do Trem na Estação Intendente Câmara pela manhã, o burburinho de gente indo para todo lado, vendedores de doces, salgados e um pastel de carne me chamou a atenção. Quanto? – Dois reais. Leve três e pague dois! Estava com fome, meu dinheiro era pouco, mas não sabia o que ia passar naquele dia. Sentei em um banco de madeira e rememorando meu passado comi os pasteis devagar saboreando cada pedaço.

                    Do Outro lado da linha, o bulício da Usina, arfante na sua montagem com um futuro promissor.  A estação esvaziou. O Chefe da Estação me informou onde ficava o Escritório Central da Usina. Eu era um novo contratado da Usina Siderúrgica de Minas Gerais. Desempregado há mais de um ano precisava trabalhar. Deixei minha vida de vendedor de livros em Belo Horizonte e a procura de novos horizontes ali estava sentado em um banco comendo pastel...

                   Atrás da estação uma estrada, nua, esburacada, empoeirada... Nada dos prédios suntuosos da usina, só vi ao longe uma espécie de armazém de madeira, enorme com uma fila de homens também enorme dando volta em matos espigados e lá fui eu, pisando na terra seca, vento soprando poeira no ar sem saber o que seria o meu futuro dali a alguns anos. Fichado, pés nos costados, agora era achar meu alojamento e no dia seguinte me apresentar ao gerente no Alto Forno número um! Uma saga que um livro inteiro não daria para contar!

                   Aprender... Conhecer... Tentar fazer amigos e compreender minha nova função de programador de alto forno. Eu programador? Era um mero anotador de horários, vendo o gusa liquido cair em uma panela espécie de vagão e depois ligar para a Aciaria e perguntar se chegou... Escoteiro? Você? Já ouvi falar... Era Raimundo, estava ali há seis meses. Foi meu mentor, meu mestre, meu Monitor. – Vado, você precisa conhecer o Carlos só fala escotismo e é um amigo onde moro e durmo na Candangolãndia!

                  Carlos, meu amigo, meu novo irmão escoteiro. Ficamos inseparáveis... Dois jovens meninos escoteiros metido a homens passando horas e horas contando suas nuances, seus percalços, suas idas e vindas em serras distantes, seus amigos de Patrulha que ficaram para trás... Fomos morar em uma pensão, em Melo Vianna, na época distrito de Cel. Fabriciano. Precisávamos fazer escotismo, ele escoteiro Lis de Ouro e eu um mero Primeira Classe...

                 Pelas nossas mãos surgiu o Grupo Escoteiro Tapajós, ele Chefe de Lobos, eu de Escoteiros. Um salto no tempo, Grupo Grande, chefia coesa, Padre no meio abençoando, eu olhava para ele, ele para mim... Vado... Ele dizia... Conseguimos. Cantávamos junto à canção do grupo: “Eu sou um bom escoteiro, ouçam bem a minha voz, vivo alegre o dia inteiro... Pois pertenço ao Tapajós”!

                 Juntou-se a nós o Zé Pedro, o Zé Pontes... O Venâncio, o Odair, cursados escoteiramente na capital, fazendo escotismo naquele pedaço de chão. Amigos... Tempos passaram amizade aumentando, casei, veio à revolução de 64. Pego desprevenido na capital aproveitando uma folga. Soldado prá todo lado. Sem ônibus, sem trem, sem nada para voltar. Um dois três dias e voltei. Chico Mulato motorista de Taxi: - Vado! Cuidado a policia está atrás de você, levaram o Carlos para o DOPS na capital!

                 Padre Júlio com os olhos vermelhos contou: - Disseram que ensinamos aos meninos comunismo. Lenço Vermelho e Branco. Não pode! Quem disse? – Vado, acho que foi o Lourenço, Juiz de Paz! Uma semana, duas o Carlos voltou. Cabeça baixa, acabrunhado, revoltado. – Vado! Olhe o que fizeram comigo! – Arrancaram-me duas unhas de cada mão com alicate! Colocaram-me pendurado de cabeça para baixo, fizeram o “diabo”... Deus do céu! Revolução? Alcaguete, dedo duro, destruiu uma vida de sonhos...

               Fui demitido da Usina. Carlos voltou para Juiz de Fora sua terra natal. Uma semana depois morreu dirigindo seu Karmann Ghia com uma carreta passando por cima do seu carro que comprou com tanto sacrifício. Hã... Vida que te quero viva, vida que vivo todo dia... Talvez um dia... Vida que vivo a minha; 

              Histórias para cantar, Grupos Escoteiros que rodei acampamentos que viajei terras que conquistei sem ser um desbravador! Amigos tantos amigos que ficaram na história de um Velho Chefe Escoteiro que nunca os esqueceu! E o Velho Primeira Classe perdeu sem amigo Lis de Ouro dos belos tempos de outrora!

              Ah! Quantas histórias. Quantas lembranças. Umas ficam marcadas e a gente quando lembra a saudade bate fundo e os olhos ficam molhados como a lembrar de um passado que valeu. Escotismo é assim, traz amigos que entram em nosso coração e ali ficam para sempre!   

                Apenas um relato de um fato de uma lembrança que a gente não quer esquecer. Não é uma história, é apenas um relato de dois amigos que se conheceram, viveram por alguns anos juntos e o destino os separou. Três anos e meio e a amizade parece que veio da eternidade. A vida é assim, uns vão e outros ficam, mas o destino tem um final que ninguém conhece, mas sabe que vai acontecer!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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