domingo, 18 de novembro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Um monitor a beira de um ataque dos nervos.



Conversa ao pé do fogo.
Um monitor a beira de um ataque dos nervos.

Prefácio: - É sempre gostoso contar histórias de escoteiros. Histórias como do Monitor Visconde e do Escoteiro Anthony Lambert existem milhares por aí. Se acheguem, imaginem que estão em volta do fogo, comendo uma banana assada deliciosa. E vamos viajar nas asas do tempo e da imaginação...

                Pois é Chefe, foi isto mesmo que aconteceu. Se para outros monitores fosse normal para mim faltou pouco para desisti de ser Escoteiro. Quer saber? Se não fosse minha promessa e minha lei deixaria o cargo de Monitor para outro. Bem, eu tinha treze anos e nenhuma experiência de liderança a não ser aquela vivenciada na Patrulha. Não era um pata-tenra como monitor isto não, assumira no ano passado quando Nonô foi embora com seus pais. Como ele chorou Chefe. Marcou-me muito sua saída. Todos nós tínhamos por ele uma enorme amizade e o considerávamos um irmão. Por ser muito emotivo não fui à estação despedir dele, depois mandei uma cartinha que contribuiu durante anos manter uma correspondência.

               A patrulha me recebeu bem. Não esperava ser escolhido. Jairo o Submonitor seria a escolha certa. Mas ele mesmo me indicou e disse que não gostaria de ser monitor. Nem sempre éramos os primeiros, mas também nunca fomos os últimos. Saímos bem em qualquer acampamento. Quando assumi no acampamento de julho no Vale dos Sinos ficamos dois dias em primeiro lugar. Um orgulho danado Chefe. Mas tudo que é bom dura pouco. Com a saída de Nonô a patrulha ficou com seis. Abriu-se uma vaga e o Chefe Djalma me chamou na sala da chefia. - Visconde outros estão na lista de esperava, mas resolvemos dar preferência ao menino Anthony Lambert, filho do meu Chefe na fábrica que trabalho. Pediu-me a vaga. Eu não podia negar. No próximo sábado será apresentado à patrulha. Preciso de você para conversar com a patrulha e explicar o motivo da escolha. Diga a verdade. Não sei o que vai acontecer, mas abri uma exceção e não pretendo abrir outra.

                 Não disse nada, afinal a escolha era do Chefe. Fiz minha parte e a patrulha ficou ansiosa para conhecer o novo membro. Pois é Chefe ninguém estava preparado nem eu. O menino era um chato, exigente, pensava ser o dono da patrulha. No primeiro dia pegou o bastão da monitoria e disse que seria dele a partir daí. Tomei dele educadamente e saiu chorando procurando o Chefe. Era sempre assim. Se sentisse tolhido corria chorando para o Chefe. Um mês depois a patrulha se reuniu e pediu a saída dele. E agora? O que fazer? Mas eis que ele chegou naquele sábado com uma pasta cheia de papéis. – Monitor! No próximo acampamento quero fazer estas pioneiras. Tirou da pasta um amontoado de desenhos que nem sei se foi ele quem desenhou. Não disse nada. Já pensava como aguentar o dito cujo por três dias na Fazenda Aconcágua de Dona Iraci.

                 Chefe não sei se o senhor passou por isto, mas eu passei e não quero passar de novo. Falei para o Chefe Djalma para prevenir seus pais sobre o que seria. Mas sabe o que ele me disse? – Seu pai deu ordens para ele ir. Colocou a caminhonete da empresa a disposição. Caso ele não goste ou se sinta mal, eu devia trazê-lo de volta! Ele tem de aprender a ser homem! – Chefe! O senhor aceitou? – Fui obrigado. Vamos dar um crédito. Afinal quem sabe tudo acaba bem? No dia da partida lá estava sua mãe com uma lista enorme. – Chefe Djalma dizia ela – Ele deve tomar tais e tais remédios. Ele deve comer quatro vezes por dias nos horários certos. Ele não gosta disto e daquilo. Se tomar sopa ele vomita tudo. Gosta de dormir tarde e levantar depois das dez... Fiquei pensando no que ouvia. Por mim não vai ter folga. Ou come o que comermos ou passa fome. E tem mais vai levantar as seis em ponto!

                  Quando chegamos ele todo serelepe queria escolher o campo da patrulha. Ameaçou pegar um berreiro se não fosse com os monitores. Pela primeira vez vi o Chefe Djalma perder a paciência. Ele correu e se escondeu atrás das árvores. Preveni o Jairo para não dar folga a ele. No primeiro dia foi bem. Ajudou nas pioneiras, fez sozinho as fossas de liquido e detrito que se abriam a um simples toque de pé ou mão. Mas nem bem escureceu me procurou. – Monitor, quero ir embora, a comida do almoço foi uma droga. Aqui tem muito mosquito. Vou e volto amanhã, chame o Chefe para me levar! Chefe Djalma gritou: - Você come aqui, dorme aqui, vai fazer tudo que os outros fazem e se chorar amarro você naquela árvore e vai dormir ali toda noite.

                  É... O Chefe estava arriscando seu emprego. Podia ser demitido. Seria ruim, pois teria de mudar de cidade para arrumar outro. Mas Anthony Lambert nem aí. Gritou, esperneou, chorou tanto que muitos acreditaram nele. Lá pelas nove da noite me pediu um pouco de comida. Flávio o cozinheiro tinha guardado para ele. Ficou manso, sentou-se a mesa de patrulha e comeu com gosto. Tinha de comer, fiz questão de limpar sua mochila dos doces chocolates e biscoitos que sua mãe colocou lá. Chefe, Anthony Lambert mudou e como mudou. Na chegada sua mãe veio correndo abraçar o seu filhinho. Ele disse: Mãe espere tenho de ajudar a patrulha a descarregar o material e guardar. – Seu pai gritou: - Que o Chefe Djalma o faça você vai pra casa! Ele respondeu para o pai: - Aqui sou Escoteiro, vá gritar com seus empregados. Só vou quando terminar e saiu de perto carregando uma barraca!

                   Olhe Chefe, nunca vi uma mudança tão rápida. Precisava ver o novo Escoteiro Anthony Lambert. Eu mesmo não acreditava no que via. O melhor é que ficamos amigos. Ele ia a minha casa e eu na dele. A patrulha fazia muitas reuniões em sua casa. Sua mãe era ótima nas guloseimas e fazia questão de fazer no lugar de Lourdinha a cozinheira. Quando passei para os seniores ele me disse: - Visconde me espere, breve estarei lá com você! E o tempo passou, cresci estudei e hoje sou o Gerente na Fabrica de Anthony Lambert!

                 – Olhei para Visconde. Estava eu ele JF e Juliano sentando em volta de um fogo amigo, na montanha do Grilo. Passava da meia noite. Todos os escoteiros já tinham ido dormir. Visconde! Perguntei, e onde anda Anthony Lambert? Chefe! Oh Chefe! Ele hoje mora em Paris. Casou com a Duquesa de Windsor, vive bem, tem mais cinco fábricas na Europa. Fez questão de me fazer sócio e depois me vendeu sua parte! Olhe me garantiu que viria aqui fazer uma visita. Saiu de Paris as três e deve estar chegando no seu jatinho particular.

                 Um farol iluminou a estrada dos Afonsos. O carro não podia prosseguir, pois não havia mais estradas. Meia hora depois ele chegou respirando fundo. Em carne e osso Anthony Lambert. Gordo, barrigudo, mas com um sorriso encantador – Preciso voltar ao escotismo disse: - Deu um abraço apertado em cada um. Sentou na beira do fogo, pegou uma banana assada, no caneco tomou um cafezinho. - E então? Vamos continuar a prosa?

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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