Lendas
Escoteiras
O
lindo Balão Azul do Escoteiro Zezé dos Pinhais.
Prefácio: - Levei o dia todo, a minha
tarde inteira, Não joguei futebol e até nem quis brincar de soldado e ladrão...
Ajoelhado na sala, a minha brincadeira, foi cortar os papeis de cores, e os
juntar. Fazendo o meu balão... Escoteiros sabem que balão mata, destrói
famílias, destrói fabricas lojas e por isto evitam e não soltam balões.
No meu tempo de menino eu adorava
balões. Quantas vezes eu sonhei em voar pelo céu em um balão. No meu entusiasmo
esquecia-me dos perigos que ele representava. Todas as vezes que Seu Nonô
Baloeiro soltava seu enorme balão eu corria para lá. Meu pai me proibiu. Meu
pai! Nunca me encostou um dedo. Chegava em casa e ele pacientemente dizia -
Zezé balão mata. Muitos morreram assim queimados. Uma dor horrível. Quando não
morrem ficam marcados para sempre!
Mesmo sendo escoteiro no alto dos meus treze
anos eu sabia do perigo, mas o que fazer? Eu amava os balões. Quando ele se
elevava ao céu, quando os foguetes estouravam, quando a placa se desfraldava pulava
de contente. Minha alegria era contagiante. Se pudesse eu ficava ali por toda a
noite a ver os balões subirem aos céus nas noites estreladas de maio junho e
julho. Um espetáculo que encanta toda criança que não mede o perigo que ronda
os balões. Nas reuniões de Patrulha eu sugeria que fizéssemos um dia uma
competição de patrulhas para ver quem soltava o mais lindo balão. Nunca
aprovaram. O Chefe Valdez muito educado dizia – Balão só trás a infelicidade.
Alegrias de uns tristezas de outros.
Mas eu amava também os escoteiros. Nas
reuniões de Tropa, nas excursões, nos acampamentos eu vibrava como se estivesse
soltando balões. Para dizer a verdade eu não sabia daquela minha sina. Queria
crescer para poder ficar junto ao seu Nonô Baloeiro, a fazer e a soltar os
balões. Ele tinha dezenas de ajudantes que ali estavam sem nada a receber. Quando
comentava com o Chefe Valdez, ele sorria e dizia – Zezé, eles sabem trabalhar
em equipe, mas muitos deles gastam o que não tem para que o balão suba aos
céus. Eles deixam suas famílias, sacrificam o pequeno salário que recebem e nem
pensam que estão prejudicando a sí próprio. Fecham os olhos para as desgraças,
as desventuras e a infelicidade dos queimados, a miséria por ter perdido seu
ganha pão, sua casa.
Zezé dos Pinhais ficava triste
quando alguém lhe dizia do perigo dos balões. Mas ele gostava tanto que dizia:
- O que os olhos não veem o coração não sente. Verdade ou não os balões e o
escotismo eram os sonhos de Zezé. O acampamento anual se aproximava. Iam acampar
no Rancho da Lagoa. Ele nunca tinha ido lá. Fosse onde fosse Zezé vibrava.
Amava sua Patrulha Morcego. Vibrava com os jogos, com a montagem do campo,
pioneirías e do fogo de conselho. Quando Zezé olhava para o céu estrelado
pensava: Não poderia ter um enorme balão passando?
Zezé não contou a ninguém. Em casa
escondido construiu um lindo balão azul. Ele sonhava em fazer um. Sonhava em
ver o balão coriscando nos céus em uma linda noite de inverno. Não haveria
foguetes. Ele não podia comprar. Sabia que todos seus amigos na patrulha nunca
iriam “vaquear” para comprar. Custou para comprar o papel, construiu devagar à
cangalha e depois a tocha. Levaria para o acampamento escondido. Não mostraria
para ninguém. Ele sabia que na segunda noite haveria um jogo noturno. Iria
fingir ter dor de cabeça e zarparia para uma área descampada e então soltaria
seu balão. Seus olhos cintilavam quando pensava no seu plano.
Chegou o dia do acampamento. A sede
escoteira lotada de pais e mães. Todos preocupados, entregando bilhetes ao
Chefe, e pedindo cuidado com seus filhos. Dois ônibus e uma longa viagem.
Chegaram à tarde. Um pequeno lanche e preparando o fogão suspenso para o
jantar. As Barracas armadas rapidamente. Mesas, toldos e em pouco tempo o campo
de patrulha já podia dar todo o conforto de uma casa na selva. Zezé gostava
tanto que às vezes esquecia do seu balão. No segundo dia o grande jogo. Zezé
falou ao Monitor que não se sentia bem e se podia ser dispensado. Está
dispensado, disse o Monitor. Quando o Jogo começou Zezé saiu de mansinho nos
fundos de seu campo de patrulha. Nas mãos o bornal com seu lindo balão azul.
Sonhava! Sorria! Cantava canções de louvores. Avistou um belo campo e um rio
que corria com suas águas tranquilas em direção ao mar.
Zezé tirou o balão. Desdobrou.
Pegou a cangalha e a tocha. Quando ia acender a tocha para que o gás espalhasse
pelo balão ele ouviu um choro de criança. Não viu ninguém. Onde seria? Largou
seu balão e foi até a barranca do rio. Sentado em um tronco uma menina de cinco
anos chorava em prantos. Ela estava toda queimada. Zezé sentiu o cheiro de
carne viva queimando. Zezé não sabia o que fazer – Venha comigo, vou levar você
até o acampamento. O Chefe vai lhe ajudar – Ela não respondia, mostrava sua
casa toda queimada. Zezé viu saindo da casa um Velho e uma velhinha também
queimados. Saíram gritando. Uma dor terrível. – Meu Deus! Pensou Zezé. O que
foi? O que foi? – Corra menino o Velho dizia. É um balão nos céus. Matou minha
família. Destruiu minha casa, queimou minha plantação de milho!
Zezé acordou dentro da barraca. Lembrou
do Sonho terrível. Agora fazia a mesma pergunta para ele: Eu poderia destruir
uma família com meu balão? No ultimo dia Seu Pataxó, um índio que morava próximo
ao rio contou a história do Velho Manequinho, Dona Valquíria e sua filha
Martinha e que morreram no ano passado. Um balão caiu na plantação de milho,
que atingiu sua casinha de sapé e não deu tempo para fugir. Morreram todos. Os
olhos de Zezé se encheram de lágrimas. Poderia ter sido o meu balão pensou. Eu
poderia ter matado todos eles! Juro meu Deus! Nunca mais, mas nunca mais mesmo
vou tocar em um balão.
Assim como Zezé tem muitos jovens
que sonham com balões. Que está historia sirva de lição. Não é uma lenda. Todos
os anos centenas de casos como este acontecem. Morrem adultos e crianças,
perdem-se plantações que foram plantadas com o suor de quem precisa viver. "Balão no céu, perigo na terra". Todo
mundo já deve ter ouvido essa frase em algum lugar, mas as pessoas não costumam
dar muita atenção a ela. Os incêndios causados por balões podem ser bastante
graves e podem destruir as casas, indústrias, plantações e até mesmo causar
mortes. Seja um bom Escoteiro. Nunca solte balões!
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