quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Lendas Escoteiras. O sol brilha para todos.



Lendas Escoteiras.
O sol brilha para todos.

Prefácio: - Agora que já vivi o meu caso posso rememorá-lo com mais serenidade. Não tentarei fazer-me perdoar. Tentarei não acusar. Aconteceu simplesmente.

                     O chamavam de Raoní. Seu nome era Anderson. Foi na patrulha que lhe deram este apelido achando que ele parecia com um cacique muito conhecido. Ele não se importava. Se a patrulha que amava queria assim que assim fosse. Ele tinha os Javalis no coração. Eram muito unidos. Fora das reuniões se reuníamos em frente à casa de cada um. Faziam tudo junto. Cinema, passeios, trabalhos escolares e até mesmo namoravam as mesmas meninas. Risos. O chefe admirava a união da patrulha e incentivava as outras a fazerem o mesmo. Dava os Javalis como exemplo, nos acampamentos, onde o seu campo sempre era o primeiro a ser montado. Eram os primeiros em tudo. Almoço, montagem de campo e jogos.

                Marcaram um feito no Livro da Patrulha onde os mesmos patrulheiros acamparam por 42 noites um fato inédito. Raoní caminhava para "tirar” a primeira classe. Faltava a prova de jornada bem adiantada pelo chefe Ivan. – Raoní, ele dizia. – Só tem treze anos, tem tempo meu jovem Escoteiro. Vamos realizar sua prova em fins de novembro. Raoní tinha tudo esquematizado. Local conhecido e Tavinho iria com ele. Como dizem por aí se a vida é um mar de rosas os espinhos tendem a aparecer. Na tarde de terça ele estava em casa só com sua mãe e seu pai. Vários policiais sem pedir licença invadiram sua casa e prenderam seu pai. Seu mundo caiu. Ele não parava de chorar. Sua mãe se desesperou. Os policiais arrastavam seu pai espancavam-no e o levaram até o Camburão. Os vizinhos chamaram um advogado conhecido.

               Só no dia seguinte ficaram sabendo da acusação. Alguém disse tê-lo visto seduzir Maria Sonia e ela foi encontrada morta a punhaladas em um matagal. Ele e sua mãe não tinham condições de pagar um advogado. O Grupo Escoteiro em polvorosa. Conheciam seu pai e sua honestidade. Seu pai não pode explicar onde estava. Tinha saído mais cedo e só voltou bem tarde para casa. Um misto de dúvida começou a pairar no ar. A loja que seu pai trabalhava recusou a indenizar sua saída. Cancelaram seu cartão de saúde e ficaram em uma situação desesperadora. Raoní não ia mais ao Grupo Escoteiro. Nunca foi abandonado pelos Javalis, sempre fieis. Não sabiam o quanto ele sofria quando contavam dos acampamentos e excursões.

             Sua mãe vendeu o carro que tinham e comprou uma Kombi. Tentou ao seu modo transformá-la em um Carro de Cachorro Quente. Iria começar vendendo como outras guloseimas. Raoní ficou do lado dela ajudando. No principio quase não ganharam nada, mas depois tudo foi melhorando. Aos domingos iam visitar seu pai na prisão. Os três quando se encontravam não paravam de chorar. Ele nunca contou seu sofrimento na prisão. Não tocava no assunto da morte da jovem. Um ano depois ele foi julgado e condenado a vinte e cinco anos de cadeia. Raoní ficou uma semana chorando sem parar. Na cidade muitos quando passavam diziam gritando que ele era filho de um assassino. O tempo foi passando o trabalho aumentando e sempre a patrulha a visitá-lo sem nunca esquecer.

                 Seu pai mudou muito na prisão. Um dia apareceu em sua casa, uma senhora, simpática, vestindo simplesmente, levando em tiracolo seu filho de onze anos. Educadamente contou para sua mãe que quando a jovem fora assassinada ele estava com ela o tempo todo. Sua mãe não acreditava. Ela contou que antes do casamento com ela eles viveram juntos e ficou grávida. Escondeu dele. Ela pediu que ele se afastasse, pois amava outro homem. Seu marido descobriu que era pai do meu filho, mas também tinha o Raoní com a senhora. Uma vez por semana ele a visitava para ficar junto ao seu segundo filho e ajudava nas despesas. Ela disse que não falou nada antes, pois era evangélica, e não queria se envolver. Sua mãe não condenou.

                 Interessante que enquanto elas conversavam Raoní fez amizade com Miltinho. A ideia de ter um irmão o fazia feliz. Agora muito mais, pois sabia que seu pai era inocente. Dois anos depois prenderam o verdadeiro assassino e soltaram seu pai. O delegado viu o erro cometido. Demorou cinco meses para o Juiz ordenar a soltura. Os vizinhos quando o viram chegar ficaram envergonhados, pois nunca ajudaram a mãe de Raoní. Seu pai estava um “trapo” quando retornou. A imprensa nada disse. Ele não era mais manchete. Mesmo injustiçado nunca condenou ninguém. Nem foi ao seu ex-emprego reclamar alguma coisa. Ofereceram a ele entrar com uma petição para exigir do Estado uma indenização. Ele também não quis. A vida continua. Isto fez parte do meu crescimento dizia. 

                 Sua mãe fez amizade com a mãe de Miltinho e eles sempre iam visita-lo em sua casa. Seu pai não comentou o porquê escondeu tudo. Raoní sabia que ele não queria prejudicar a mãe de Miltinho. Agora com seu pai compraram outra Kombi e em pouco tempo abriram um restaurante. Ele agora era outro homem. Mudaram para uma casa maior em outro bairro. Raoní pensou muito se voltaria ao Grupo Escoteiro. Ele sabia que a sua Patrulha sempre foi solidária, mas os outros não. Mesmo assim ele voltou com a cabeça erguida. Muitos chefes vieram abraça-lo e pedir perdão pelo julgamento infundado. Miltinho também entrou para o Grupo Escoteiro.  Agora eram uma família feliz. Deus soube conduzir seus destinos para que a verdade viesse à tona.                  

               Raoní sabia que perdoar era melhor que condenar. Um poeta uma vez escreveu: - “Ao julgar e condenar alguém, não se esqueça de que você também poderá estar suscetível ao mesmo erro, haja visto sua condição humana, portanto, pense e pese antes de constranger seu semelhante”. Agora vivem felizes. Seu irmão passou para os escoteiros. A Tiradentes sua patrulha e os Javalis que adotaram seu irmão tiraram o ar de derrota deles. Pois é o sol dizem é para todos e eles também tiveram sua parte de um amanhecer e um por do sol cheio de felicidade!



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....