sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Lendas Escoteiras. Era uma vez... Um chapéu Escoteiro para Cimarron.



Lendas Escoteiras.
Era uma vez... Um chapéu Escoteiro para Cimarron.

Baseado em fatos reais, “Um chapéu Escoteiro para Cimarron” foi uma feliz lembrança de historias Escoteiras que nunca foram esquecidas. Com algumas alterações considero como uma das dez melhores que escrevi. Obrigado.

                             Noite alta, devia passar da meia noite. Não tínhamos relógio, mas a lua e o sol nos dava o horário que precisávamos. Próximo a Ponte do Alemão onde tocaiávamos o trem de ferro, permanecíamos em vigília. Sabiamos que a qualquer momento o comboio de 300 vagões ou mais com quatro locomotivas iria passar. O pontilhão era enorme, mais de um quilômetro sobre o Rio Amarelo. Tininho olhou para Noka o Monitor. – Acho que vamos atrasar... – É... Respondeu Noka. Nosso Monitor falava pouco. Mas entendíamos sempre o que ele iria dizer.

                           Lilico dormitava sem preocupação com o trem. Não foi a primeira vez que atravessariam o Pontilhão do Alemão. Se estivessem atravessando e a buzina tocasse, adeus. Não tinha como fugir ou escapar do comboio, seria morte certa ou tentar pular na água e nadar perdendo tudo que tinham. Toliar sorria brincando com seu cabo trançado nas mãos. Sempre a fazer um ou outro nó. Era bom nisto. Diziam que fazia de olhos fechados mais de 80 nós escoteiros e marinheiro. Délio Abelha dormia. Era uma Patrulha de experimentados escoteiros. Todos sabiam o que fazer.

                      Lilico de olhos cemi-cerrados, mas com ouvidos atentos olhava a estrada de ferro com carinho. Colocou os ouvidos no trilho. Está chegando! Falou. A patrulha se animou. Cada um pegou sua bicicleta e suas tralhas e ficaram a espera do comboio. Quem sabe era pequeno? Uma vez na Ponte do Cara Preta ficaram quase meia hora esperando o comboio passar. Mais de trezentos vagões e cinco locomotivas a dizel. Diziam que era o maior trem do mundo. Quase 3.500 metros de extensão. 40.000 toneladas de minério gemendo nos trilhos daquela ferrovia infernal.

                       Na curva do Maribondo avistaram o farol do trem. Potente! Iluminava tudo. O maquinista e o seu ajudante sorriram para eles quando puxavam a potente buzina. A patrulha sorriu. Délio Abelha sabia que todos sonhavam um dia estar ali, naquelas máquinas infernais, levando minérios e outros bichos para países do além mar. Quinze minutos até passar as cinco locomotivas acopladas e os vagões. No ultimo uma vagonete com um lampião vermelho a querosene aceso.

                      Atravessaram o pontilhão com calma, nada de correrias. Prender uma perna era programa de índio. Do outro lado respiraram aliviados. Noka custou para falar – Acho melhor arranchar no campinho de futebol do Arraial do Lagarto. Esta hora todos estão dormindo e sairemos cedo para a Serra do Roncador. Chegaremos lá antes das onze e a escoteirada já devem estar nos esperando! Deu um suspiro montou e lá foram eles. Meia hora e chegaram ao campinho.

                     Vinte minutos e estavam dormindo nas barracas de duas lonas. Deixaram os chapéus em cima da barraca para apanhar a brisa da manhã e não perder a aba reta. O sol surgia quando todos levantaram. Hora de partir. Noka viu que o seu chapéu tinha desaparecido. Os demais ali estavam como os deixaram. Em volta viram umas vinte pessoas olhando. Eram moradores do Arraial. Noka perguntou se ninguém viu seu chapéu. Um menino gritou: - Foi Cimarron quem levou!

                     Noka perguntou quem era o Capitão da Cidade. Em qualquer arraial sempre tinha um. – Procure o Madrepérola. Ele já deve ter acordado, pois tem quatro vaquinhas leiteiras. Noka montou em sua bicicleta. Os demais o seguiram. O centro nada mais era que um descampado sem grama e empoeirado com umas quarenta casas de taipa em volta. Uma plaquinha dizia – Casa do Capitão. Bateram palmas e a meninada riu. – Vá por trás. Ele está tirando leite! Os Escoteiros da Morcego não estavam rindo. Sabiam do valor do chapéu Escoteiro e como era difícil adquirir um. Viram o capitão tirando leite. Noka explicou com poucas palavras. De novo? Respondeu o Capitão. – Cimarron vai aprender. Eu mesmo vou lhe dar uma lição!

                       Madrepérola foi junto com os Escoteiros a casa de Cimarron. Sua mãe estava à porta com o chapéu de Noka. – Onde ele está dona Efigênia? No quarto Capitão. – Chame-o! Cimarron apareceu na porta chorando. – Conheço seu choro, disse o Capitão. A meninada gritava: Prende ele Capitão! Tudo para eles eram festa. No arraial nada acontecia. Noka pegou seu chapéu. Olhou para Cimarron. Nunca tinha visto menino tão magro e de olhos caídos. – Cimarron chorava. Soluçando disse que um dia seria um Escoteiro. Sabia que nunca seria no Arraial. Mal tinha a escola para estudar. Noka se compadeceu. Chamou Délio Abelha e o pediu para arvorar a bandeira nacional. Feito pegou na mão de Cimarron. Venha menino. Você vai ser Escoteiro! – Formaram uma ferradura pequena. O povo do arraial apalermado sem saber o que ia acontecer. – A bandeira em saudação! Gritou Noka. Pegou na mão de Cimarron ensinando. Firme! Descansar!

                   A patrulha ficou de sentido. Noka pediu para Cimarron levantar a mão direita. Ensinou a meia saudação Escoteira. – Repita comigo Cimarron! – Prometo, pela minha honra, fazer o melhor possivel para: - Cumprir meu dever para com Deus e minha Pátria, ajudar o proximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei do Escoteiro! Sabe Cimarron, um Escoteiro não mente, um Escoteiro é leal, um Escoteiro respeita o que é do próximo. Agora você é um Escoteiro. Noka tirou seu lenço e o colocou em Cimarron. Depois pegou seu chapéu e o colocou em sua cabeça. Cimarron chorava, e como chorava. O povo bateu palmas. – Alguém gritou! – Viva Cimarron um Escoteiro do Brasil! – Os patrulheiros o abraçaram. Arriaram a bandeira. Pegaram suas bicicletas e partiram. Muitos meninos ainda correndo atrás.

                      Pararam na subida da Onça Pintada. Noka desceu da bicicleta e olhou para trás. Cimarron chorava gritando para eles: - Obrigado irmãos! Obrigado. Prometo ser um escoteiro de valor. Prometo que vão se orgulhar de mim. A patrulha montou em suas bicicletas e partiram na estrada que os levaria ao seu destino. Antes da curva da Coruja ainda ouviram ao longe a voz de Cimarron – Adeus amigos, adeus! Voltem um dia! Vão encontrar um Escoteiro Leal e amante da paz!

                      Ninguém disse mais nada. Cada patrulheiro sabia o Monitor que tinham. Um orgulho em pertencer àquela patrulha. Se Cimarron ia mudar ou não, era sua escolha. Uma boa ação foi feita. A patrulha virou a curva do morro da Coruja. Sumiram na estrada que os levaria ao seu destino. Eles acreditavam que Cimarron cumpriria sua promessa. Sabiam que ele aprendeu a raça, a cortesia, o respeito e a fraternidade de um escoteiro. Na descida da estrada do Cantador, imaginavam que deixaram para trás um Escoteiro sem tropa, sem patrulha, mas com um imenso amor para dar!

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