domingo, 30 de dezembro de 2018

Lendas da Jângal. Um vira latas de nome Takala.



Lendas da Jângal.
Um vira latas de nome Takala.

Prólogo: - “Recolha um cão de rua, dê-lhe de comer e ele não morderá: eis a diferença fundamental entre o cão e o Homem”. - “O Homem tem feito na Terra um inferno para os animais”. - Separei algumas de minhas histórias mais incríveis para postar novamente aos que ainda não conhecem. Takala eu tenho certeza vocês vão adorar.

                              Ele tentava entender o porquê, mas era um cão, um mísero cão vira lata que achou que tinha um lar para morar. Cão não fala e não pensa dizem. Ele nem raciocinou quando ela o jogou pela porta do carro no meio da rua naquela tarde fria com uma chuvinha intermitente. Pensou ser uma brincadeira apesar de que ela nunca brincou com ele. Batia sim, chutava seu corpo e um dia lhe deu uma surra de vara porque fez xixi na porta que estava fechada. Correu atrás do carro de sua dona, mas já era Velho demais para isto. Logo ela sumiu em uma esquina e ele perdeu o carro de vista. Assustado no meio da rua quase foi atropelado por outros veículos. Alguém lhe deu um chute e ganindo correu para o passeio debaixo de uma marquise. Ele ficou ali por pouco tempo todos que passavam lhe davam um pontapé ou gritava com ele. Molhado ele gania de frio. Não sabia o que fazer. Nunca passou por isto, nunca.

                            Takala não sabia quando estava feliz ou triste. Era um cão vira lata com mais de doze anos. Quando mais jovem morava em um sitio de um homem pobre e velho e quando o menino da cidade começou a brincar com ele sua vida mudou. Nunca entendeu porque a mãe do menino o levou com ele. Durante meses foi feliz com o menino. Brincavam corriam e Takala se sentia outro. Um dia o menino sumiu. Sua mãe chorava pelos cantos. Ele não sabia o que fazer, afinal era um cão vira lata que não sabia pensar. Quando ela o pegou pelo rabinho e o jogou no carro ele não entendeu nada. Quando ela o jogou porta afora muito menos. O que fazer? A chuva aumentava. Na esquina encontrou um viaduto. Escondeu-se em um buraco onde ninguém poderia bater nele. A fome chegou. Comia pouco, pois a mãe do menino quase não o alimentava. Só o menino que sumiu. O dia clareou e a chuva passou. Precisava encontrar comida e água. Saboreou a água nas poças que encontrou.

                           Começou a passear pelas arvores e flores que havia embaixo do viaduto. Viu do outro lado da rua um menino o chamando. Sorriu. Será que terei um novo dono? O menino estava vestido de azul com um lenço branco no pescoço. Para Takala a roupa pouco importava ele queria era um dono amigo, que gostasse dele. Correu atrás do menino e ficaram brincando de pega, pega. O menino de azul sorria a mais não poder. Chegaram a um portão. Takala sabia que não o deixariam entrar. Sempre foi assim, cão vira lata sem pedigree não entra em nenhum lugar. O menino de azul entrou e o portão fechou. Takala esperou pensando que o menino lhe daria alguma coisa para comer. Algum tempo depois o portão se abriu e o menino de azul sorrindo o chamou para entrar. O rabinho de Takala nunca balançou tanto. Ao entrar viu muitos meninos de azul, outros de chapéu todos gritando e sorrindo. O menino de azul o levou até uma cobertura. Fez sinal para ele ficar ali.

                           Muitos meninos e meninas de azul se aproximaram de Takala. Ele sorria nunca pensou ter tantos amigos. Latiu, um latido fraco quase mudo. Logo trouxeram comida para ele. Ele nunca vira tanta comida. Comeu e quando comia levantava a cabeça com medo de um chute ou de um tapa, pois sua dona sempre fazia isto. Escurecia e os meninos estavam indo embora. O menino de azul veio com uma moça e Takala viu que conversavam muito. O levaram até um galpão coberto e aberto nas laterais. O menino de azul mostrou para ele um pequeno capacho, uma vasilha d’água e muita comida encostada a parede. O pegou no colo e o beijou. Takala viu que seu coração batia. Nunca ninguém o beijara. Ele ficou ali naquele galpão, pois agora era seu novo lar. Sempre a esperar que o menino de azul chegasse.

                           Um dia eles chegaram cedo. O sol acabara de nascer. Takala sorriu Agora no seu novo lar amava os meninos e as meninas de azuis. O seu amigo o pegou no colo e entrou com ele em um ônibus. Takala tremeu, de novo não! Pensou em latir, em morder e só o medo de ser jogado pela porta de novo o fez calar. Fechou os olhos embaixo da poltrona. Ele não sabia rezar, mas seu instinto o alertava para tudo. Durante horas ele ficou no ônibus tremendo de medo. Quando chegaram foi uma algazarra, todos correndo e Takala correndo atrás deles. Nunca Takala o vira latas foi tão mimado, tão cercado de amigos. A noite uivava para a lua como a dizer – Agora eu sou feliz, pois posso amar... No terceiro dia correu atrás do seu amigo de azul que se embrenhou em um bosque. Takala adorava aquela brincadeira. Sentiu seu coração batendo, corpo tremendo, e não queria parar. Correram tanto que uma hora ele deitou. Uma dor incrível no seu coração. Coração velho de vira latas que só sabem amar.

                        Ao seu lado o menino de azul ria e rolava no capim verde chamando Takala. Ele não aguentava mais. A dor era muito forte. Viu uma serpente enorme se enroscar para dar o bote no menino de azul. Ele sabia o que era uma serpente. Quando jovem seus donos corriam delas no sitio em que morou. Takala fez um esforço enorme. Levantou gemendo, pulou em cima da serpente latindo fraco, respiração ofegante. A serpente o mordeu na sua jugular. O menino de azul saiu correndo chamando a moça que tomava conta. Vieram vários. Não encontram a serpente e nem Takala. Os meninos e as meninas de azuis choravam. Ao voltar para a fazenda viram ao longe uma serpente e um cão lutando. Correram até lá. Tarde demais. Takala estava morto, mas conseguiu matar a serpente. Aquela noite nunca se viu tantos meninos e meninas de azul a chorarem. Custaram para dormir.

                       De manhã uma surpresa. O sol brilhava nunca se viu tantos pássaros no céu. Uma revoada acontecia. A moça amiga do menino de azul fez um lindo esquife verde. Ela reconheceu que Takala foi um herói e precisava ser homenageado. Embaixo de um Abacateiro em uma cova simples fizeram uma cerimonia fúnebre cantando uma canção chamada de até logo, breve adeus. Para um simples vira lata Takala teve honras de estilo. Todos choravam quando era enterrado. Takala só no céu ficou sabendo que era a Canção da Despedida. Takala próximo a eles estranhava que ninguém o via. Só o menino de azul que sorria para ele. Viu descendo do céu em uma nuvem branca uma grande Vira Latas branca, sorrindo, focinhos com focinhos ela e ele deixavam as lágrimas de alegria cair. Ela deu um latido leve e correu pela nuvem, Takala correu atrás dela e sumiu no horizonte azul. O menino de azul também chorava e ao chamado da moça todos ficam firmes e fizeram uma saudação que Takala já conhecia. Era o Grande Uivo. Feito em homenagem a Takala, um vira latas que só sabia amar e foi para o céu.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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