quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

UMA LINDA HISTÓRIA DE AMOR EM MEU CLÃ


UMA LINDA HISTÓRIA DE AMOR EM MEU CLÃ

Em uma montanha bem perto do céu,
Existe uma lagoa azul.
Que só a conhecem aqueles que têm
A dita de estar em meu Clã!

Jovi me procurou uma tarde de domingo, cinzenta, sem garoa e com temperatura agradável para um verão escaldante. Eu não costumava sair aos domingos e ficava em casa lendo alguma coisa ou mesmo conversado com Nininha, minha esposa. Meus dois filhos, na pré-adolescência estavam em atividade da Tropa Escoteira. Minha esposa estava em visita a um vizinho adoentado.

Não tenho certeza, mas acho que a última vez que vi Jovi, foi no ano anterior. Assim mesmo de passagem. Ele estava em um ponto de ônibus e parei oferecendo uma carona. Levei-o até sua casa, pois não era tão distante da minha. Conversamos pouco. Jovi era reservado para falar e eu estava em um dia não muito agradável.

Lembro quando Jovi entrou para a Tropa. Eu era o Chefe e vi que ali estava um jovem sério, amigo, sincero e podíamos sem sombra de dúvida contar com ele. Claro, ele também podia contar com todos nós. Recordo que ficou na tropa até ser transferido para os seniores. Daí em diante não saberia precisar quando saiu do Grupo Escoteiro.

Seus pais eram pessoas simples que procuravam dar uma educação esmerada a Jovi. Diversas vezes nos encontramos, em Conselhos de Grupos ou Reunião de Pais. Lembro que duas vezes os visitei. Era comum para nós escotistas, conhecermos melhor a formação dos jovens em casa, pois, assim teríamos melhores condições de colaborar.

Fiquei surpreso com a visita de Jovi. Não era usual. Podia dizer que tínhamos uma amizade relativa. No escotismo aprendemos que os jovens muitas vezes confiam mais em nós os chefes que em seus próprios educadores. Pais e mestres escolares. Acredito que estava agora com 18 a 19 anos. Confirmou-me depois 18 anos.
 
Inicialmente conversamos banalidades. Contou-me que trabalhava de caixa em um Banco, estudava a noite e já estava fazendo o segundo ano de Economia. Morava ainda com seus pais e com sua irmã mais velha que ainda não tinha casado. Seu salário era pequeno, ajudava em casa e pagava a faculdade, não sobrando para comprar o carrinho de seu sonho.

O assunto que o tinha levado a minha casa, soube bem mais tarde. Jovi era parcimonioso nas suas ações e modesto na sua vida particular. Claro ainda não havíamos feito uma grande amizade para uma abertura maior. Depois de algumas horas ele entrou no assunto. O que o levou a conversar comigo e não com sua mãe ou outro rapaz seu amigo, acredito deveu-se ao passado, onde juntos, confiávamos plenamente um no outro.

Pediu desculpas por ter ido se aconselhar comigo. Deixei-o a vontade. Conversa vai, conversa vem e ele com dificuldade, entrou no assunto que o tinha levado até ali. Contou que estava voltando do trabalho, quando no ponto de ônibus viu uma jovem de seus 17 anos, morena, cabelos negros compridos e achou-a extremamente formosa. Sentiu um calafrio como nunca sentiu antes e viu que ali estava a jovem dos seus sonhos.

Ainda não havia notado o seu traje. Verificou, entretanto que usava o uniforme de escoteira, calça cinza, camisa azul clara, lenço e na cabeça uma pequena boina preta que devia estar presa com um prendedor. Pela idade observou que só poderia ser pioneira.

- Olha chefe, ouça toda a minha história antes comentar, pois sei que estou sendo infantil e contando histórias que deveria contar para meus amigos da minha idade. Disse. – Retruquei que ficasse a vontade. Eu tinha todo o tempo e ele é quem decidiria quando parar.

– Bem, continuou Jovi – Como sabe não estou participando do movimento atualmente. Faz um ano que deixei o Grupo e não sei se sabe, o trabalho e a faculdade me tomam todo o tempo. Sinto saudades, mas quando puder claro que irei retornar. O Escotismo durante muito tempo foi o amor da minha vida e a ele agradeço por muito que me deu. Assim acho um tema espinhoso e acredito que depois desta conversa é bem possível meu retorno de imediato.

– continuou Jovi - Naquele dia fiquei embasbacado com aquela jovem. Não me aproximei. Sou meio tímido com as moças, isto é sou tímido demais completou. Fui para casa sonhando com ela. Meu coração sempre batia em disparada quando pensava na jovem que eu vira e não conseguia apagar do meu pensamento. No dia seguinte fui correndo ao ponto de ônibus e não a vi. Isto aconteceu nos dias seguintes. Tinha que encontrá-la e fui pela manhã até a Direção do Distrito saber onde havia clãs próximos ao meu bairro.

Não havia nenhum. Em atividade sabiam que em um bairro distante estava um Clã em funcionamento, sem registro na Direção Nacional. Claro que fui até lá em um sábado. Apresentei-me e nada da moça dos meus sonhos. Saí de lá desanimado. Não podia perdê-la. Não poderia deixar de encontrá-la novamente. Sabia que não encontraria ninguém como ela. Éramos alma gêmea, disso tinha certeza.

Durante dois meses percorri todas as ruas próximas ao ponto e nada. Estava ficando apatetado, sonhando acordado e pensando que a perdi para sempre. Voltava da faculdade já tarde, em uma sexta feira, calado, taciturno pensando nela e ouvi vários jovens rindo, conversando alto e quando passaram por mim lá estava ela! Meu coração disparou.

Ela nem olhou para mim. Alegre de braços dados com um jovem. Não estava de uniforme. Deviam estar vindo de alguma festa ou quem sabe de uma faculdade ou escola nas imediações. Dei um tempo e fui atrás. Agora não podia perdê-la. Deveria saber onde morava.

Não fomos muito longe. A menos de três quadras ela se despediu e entrou onde devia ser sua casa. Simples mas com um belo jardim na frente. Só por isto vi que se tratava de uma família fraterna e trabalhadora. Fui em frente, e voltei para minha residência. Foi uma noite maravilhosa. Sonhei e como sonhei! Ela lá estava nos meus sonhos, em meus braços dizendo que eu também era sua alma gêmea.

Sei que o senhor Está me achando excessivamente infantil. Desculpe-me chefe. Mas nunca gostei assim de verdade de nenhuma outra moça. Tive amigas, poucas, mas namoro mesmo nenhum.  Para dizer a verdade, no final do dia o meu caixa não bateu. A minha chefia estranhou, não era usual.  Quem batia sem parar era o meu coração, forte, animado com uma vontade louca de revê-la novamente.

No dia seguinte, sábado, fui até a casa dela. Comprei um pequeno ramalhete de flores tomei coragem e bati. Ela mesma abriu a porta. Fiquei ali em pé, engasgado sem saber o que dizer. Meu coração disparou. Ali estava ela, linda, radiante sem saber quem eu era e de onde tinha vindo. Uma pequena tremedeira se apossou de minhas pernas. A única palavra que saiu foi o “Sempre Alerta!”. Ela sorriu e disse “Servir!”. Fiquei petrificado! Dei meia volta e saí correndo pela rua com o ramalhete na mão sem saber o que fazer.

Não dormi nada à noite. Ralhava comigo por ter sido tão idiota. Estava parecendo um jovenzinho apaixonado pela primeira garota e na hora de se apresentar, banca o perfeito boboca, um tolo. Porque não me apresentei? Por quê? Repetia sempre. Tudo bem poderia dizer que era a primeira vez, mas receio de se apresentar? Só mesmo comigo tal fato poderia ter acontecido.

Agora voltar lá estava fora de questão. O que fazer não sabia. Meus pensamentos não concatenavam e achei melhor dar tempo ao tempo. No dia seguinte, domingo, fui dar umas voltas para pensar como deveria agir e não como um pateta como fui. Teria que montar um plano. Raciocinava que quando a visse a tremedeira e a gagueira poderiam voltar.

Próxima a minha casa, existia uma pequena praça bem arborizada, local aprazível e que freqüentemente ia até lá para estudar. Sentei em um banco, serrei os olhos e pensava, pensava. Nada, nenhuma idéia, nenhum projeto simples. Nada. Nada e nada. Serrei os dentes com raiva de mim mesmo. Ainda com os olhos fechados ouvi uma voz dizendo “Sempre Alerta!”.

Abri os olhos e ali estava ela. Bem na minha frente. Uniformizada. Linda, formosa, bela. Fiquei em pé embasbacado. Ela parada me olhava e repetia, “Sempre Alerta!”. Com voz fanhosa repeti “Sempre Alerta”. Não sei como, gaguejando perguntei a ela se não era “Servir” o lema pioneiro.

- Claro disse, mas como você foi a minha casa, me deu Sempre Alerta, correu e sumiu, fiquei matutando quem era você, se era do movimento, um maluco ou estava querendo fazer uma piada comigo. – Desculpe! Mil perdões repeti. Não quer sentar? Perguntei. Ela sentou e fiquei ali, olhando para frente, sem coragem de olhar para ela.

Começamos a conversar e eu me deslanchei. Falei de mim, ela me contou sua história, falei de minha família e ela também. Quando olhei no relógio era mais de 15 horas. Vi que como eu ela também não tinha almoçado. Convidei-a até uma lanchonete próxima. Sabia que daí para frente não a deixaria fugir nunca mais. Era a primeira conversa, o primeiro encontro, mas o amor que sentia era mais forte que tudo.

Bem chefe, não vou entrar em todos os detalhes, pois o principal é que já estamos namorando há dois meses, eu não consigo ficar longe dela e agora insiste para que eu entre no Clã Pioneiro. Ele se reúne aos sábados e em alguns dias da semana fazem algumas reuniões para discutirem assuntos relacionados ao Clã.

Minhas dúvidas são muitas. Mas as principais são fortes motivos para não voltar à ativa. Voltar porque a amo, Voltar para ficar ao seu lado? Voltar para ser um pioneiro? E o ciúme? Será que terei ciúme dela? E quando ela for a um acampamento e eu não estiver presente? Por outro lado não acho interessante o que os pioneiros fazem. São atividades para mim estranhas. Também tenho que estudar e muito.  

Eu gosto muito do Escotismo. Pretendia voltar algum dia. Não gostaria de ser um a menos e estar lá por ser namorado de Debye (seu nome). Não seria bem visto. Acredito mesmo que iria ser um crítico do que fazem. Sei que ela gosta de mim e não podemos ficar longe um do outro. Ela falou em sair. Não concordei. Afinal tinha sido dois anos escoteira e três como guia.

Bem não sei qual atitude tomar. Não quero que o senhor se sinta pressionado para um aconselhamento agora. Poderei voltar outro dia. Quem sabe uns dias pensando não só o senhor, e eu também poderíamos ter outro caminho não tão difícil como este.

Concordei com Jovi. Antes de sua saída, pedi o endereço do Grupo Escoteiro onde o Clã se reunia. Achei que fazendo uma visita poderia ter uma idéia melhor.

Não era um expert em pioneirismo. Conhecia bem o livro Caminho para o Sucesso de Baden Powell. Era só. Fora pioneiro em outras épocas. Agora o que faziam era para mim um tema desconhecido. Acreditava que ainda sonhavam com grandes aventuras, escaladas, explorar florestas nativas, ou mostrar suas qualidades técnicas em grandes acampamentos, construindo enormes pioneiras. Era o que pensava.

Recordava bem o que estava escrito no livro, quando BP formalizou o pioneirismo - “Serviço ao próximo ou a comunidade é o resultado prático do Escotismo para Pioneiros. Todos os Pioneiros devem ser incentivados a ajudar de todos os modos possíveis no funcionamento das Tropas e Alcatéias do seu Grupo Escoteiro ou de outros Grupos.
Ganhado assim experiência no adestramento dos Escoteiros ficam preparados para no futuro se tornarem Chefes Escoteiros e pais. Para isso deve-lhes ser dadas responsabilidades em setores definidos, quando auxiliando os Escotistas do grupo.
“Atividades de cooperação e atividades de competição inter Clãs, por meio de conferencias, jogos e trabalhos práticos são necessários para que os Clãs se conheçam entre si, estimulando as amizades e emulações.”

Seria isto mesmo que os pioneiros estão fazendo? Não sei. Só acreditava que nada justificava a Jovi não participar. Entretanto precisava dizer a ele o que vi e senti, pois se me procurou queria uma resposta e eu teria que satisfazê-lo.

Naquele Sábado coloquei meu uniforme social (usava sempre o de campo quando atuando na tropa), passei pelo Grupo Escoteiro que atuava e deixando algumas instruções aos dois assistentes me dirigi ao Grupo Escoteiro onde Debye era pioneira. Não era muito longe. Em menos de 15 minutos no meu carro lá cheguei.

Havia uma boa movimentação em todas as sessões e fui muito bem recebido pelo Chefe do Grupo, que a principio se manifestou surpreso com minha visita. Fui franco com ele. Expliquei do porque, a finalidade e de que um assunto tão pueril merecesse tal tratamento. Ele entendeu bem. Achou interessante e até me colocou a par do desenvolvimento do Clã.

O Mestre Pioneiro era novo. Um pai que foi convidado e assumiu. No início sem muito entusiasmo. Sua esposa não participava. Fez um CAB pioneiro, e junto com os 9 participantes, desenvolvem suas atividades, com uma prisma mais voltada para a amizade, passeios, e vejo muito poucas atividades aventureiras. Acredito que por ser a maioria não oriunda das fileiras escoteiras, ainda não tiveram motivação para tal.

Claro que dentro dos princípios do Pioneirismo, seguem o conceito de BP, meio informal e fazem questão das normas básicas, deste o estagio de transição (Ponte Pioneira), estágio Probatório, Introdutório, e esquecem um pouco as regras básicas de atividades ao ar livre, mas são firmes na Pré-vigilia Pioneira, na Investidura, mas sua continuidade no adestramento pioneiro deixa muito a desejar. Até hoje nenhum deles atingiu as condições necessárias para pelo menos ter um com a Insígnia de BP.

Eles gostam muito de participar de encontro de clãs, mutirões e sempre tem alguns mais afoitos para mudanças sem sequer ter uma experiência anterior no ramo ou em outras sessões do Grupo Escoteiro. Mas uma coisa afirmo – São excelentes rapazes e moças (5 moças e 4 rapazes). 2 rapazes e duas moças são oriundos do grupo os demais vieram a convite.

O Mestre Pioneiro havia chegado e me foi apresentado. Excelente pessoa. Muito interessado. No entanto os pioneiros com exceção de 3 não eram muito pontuais. Só depois de 40 minutos do inicio chegaram mais 3. Os demais tinham faltado. Ele me explicou que sempre foi assim. Mas não desapareciam por muito tempo. Debye foi uma das primeiras a chegar. Seu entusiasmo estava à flor da pele. Jovem bonita, simpática, muito educada, mostrava toda sua força aprendida como escoteira e guia.

Vi que ela era uma autêntica líder. Os outros a olhavam com admiração. Fiquei ali por algum tempo. Não vi nada novo. Não vi também motivo para que Jovi não participasse. Eram moças e rapazes com formação moral excelente e isto seria benéfico a ele. Acredito que seu retorno as lides escoteiras traria muitos benefícios.

Acho que os demais do Clã precisavam de outro com novas idéias e possivelmente Jovi seria esta pessoa. Claro, levando em consideração seus afazeres profissionais e escolares.

Conversei com Jovi posteriormente. Ele não disse nem sim e nem não. Um domingo ele apareceu em minha casa junto com Debye. Estavam de uniforme. Jovi tinha se tornado um pioneiro. Foram me fazer um convite para um acampamento, cujo Clã tinha aprovado por unaminidade (idéia de Jovi). Aceitei. Foram três dias excelentes. Senti a força do Clã Pioneiro. Eram rapazes e moças fazendo um escotismo de magnífica qualidade.

Jovi soube respeitar a unidade do grupo, sem demonstrar que ali estava sua noiva e futura esposa. Todos tinham grande respeito por ele e por ela. Notava seus olhares apaixonados e seus sorrisos de amor eterno.

Três anos mais tarde, participei de uma linda festa de casamento. Jovi e Debye se casaram. Convidaram-me para Padrinho. Fizeram questão de estar de uniforme. Os pioneiros de vários clãs amigos estavam presentes. Com bastões os receberam na porta da igreja e em todo seu trajeto. Conseguiram um violinista e um violoncelista pioneiros que tocavam divinamente. Olhe, foi maravilhoso quando o Padre encerrou a cerimônia. Num coro digno de uma apresentação faustosa, cantaram a Canção do Clã, que arrancou lágrimas de muitos.

Jovi e Debye formam um casal surpreendente. Ainda não tem filhos. É iniciante de uma Empresa de Cosméticos e pretende tão logo se afirme perseguir a idéia de ter seus “rebentos”.  Esperam que com o tempo tenham pelo menos um casal. Serão ambos escoteiros no futuro me disseram. Claro, se gostarem. Eu torço por isto.

Deixo claro que esta historia não serve de exemplo para outros pioneiros de outros Clãs. Um Clã não existe para que casais se aproximem e formem uma família como eles. A amizade o companheirismo e os princípios de BP ali estão presentes. Estes são os fatores mais importantes. Sei que todos os pioneiros e pioneiras amam o escotismo. É este o motivo porque estão ali. Todos conscientes que estão no Caminho para o sucesso!


E quem quiser que conte outra,

A sede de riscos que nunca se acaba
As rochas que há a escalar,
Um rio tranqüilo que canta e que chora
Jamais poderei olvidar!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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