domingo, 4 de dezembro de 2011

AS APARIÇÕES DO CHEFE TROVÃO


AS LEGENDÁRIAS LENDAS ESCOTEIRAS

(Quinzenalmente ou mensalmente, iremos publicar contos na linha do imaginário. o titulo acima servirá para mostrar que o acontecimento é obra de ficção, mas não avalizo que possa ter alguma veracidade. Você decide)
Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos.
Pitágoras
Historia de hoje: As aparições do Chefe Trovão

Todo o sábado à tarde, levava meu filho para as reuniões da tropa escoteira que se realizavam em seu grupo. Ele se sentia realizado, e não aceitava faltar ou chegar atrasado. A princípio não achei tedioso, pois, ficava por ali esperando o término e aproveitava para ver o que faziam. Assim como eu vários pais ali também permaneciam.

O Chefe Trovão ficava quase sempre conversando conosco. Não participava diretamente. Não era o Chefe do Grupo. Sabia que era bem reconhecido, pois todos o tratavam de maneira respeitosa. Soube depois que era um dos poucos que dirigia cursos, e conhecia como ninguém o fluxograma, o projeto e o intento do programa escoteiro.

Tornou-se para nós um amigo e assim como os demais chefes após as reuniões sempre nos reuníamos em casa de alguém, para conversar, sorver é claro um whisky importado, claro que alguns preferindo cervejas ou refrigerantes. Com o tempo, o chefe Trovão convenceu a todos nós a participar mais diretamente no programa escoteiro, colaborando com o Grupo em questão.

Nada como experimentar. Reuniu 25 pais, e durante uma tarde de um sábado e o dia inteiro do domingo, aplicou a todos o CAP (Curso de Adestramento Preliminar). Foi divertido, mas logo nosso tempo aos sábados, domingos e alguns dias da semana começaram a ser tomados, em função única e somente para as atividades escoteiras.

Nos primeiros meses estávamos em dúvida, mas com o passar do tempo ficou enraizado em nossos pensamentos e sem notar nos dedicamos de corpo e alma ao movimento escoteiro. Fomos mordidos pelo mosquito encantado de Baden Powell. Daí para um CAB e a parte II da Insígnia foi um pulo.

No mês de julho, estava marcado um acampamento de 5 dias, numa pequena mata pertencente a um amigo do chefe Trovão, a tropa escoteira e sênior iriam participar. Claro que também estaríamos presente. Aos poucos fomos aprendendo como preparar o material, a intendência, as caixas de patrulhas, ou seja, tudo aquilo que os escoteiros conhecem tão bem.

Ficamos sabendo pelos outros chefes dos mitos do acampamento, e um fato chamou a atenção. O chefe Trovão fazia questão que todos participassem do banho das “três e meia” da madrugada no primeiro dia de acampamento.

Para isto era preciso um sabonete especial, que seria emprestado pelo chefe. Era uma tradição. Ninguém podia faltar. “Que diabos” pensei. Por quê? Qual a finalidade? Como havia um respeito nato ao Chefe não perguntamos. Vamos ver o que é e depois comentar.

No dia marcado partimos. Alegria geral. Chegamos cedo ao local. Lindo se querem saber. Uma grande lagoa tendo em volta uma pequena floresta nativa. Havia uma bela clareira e a poucos metros acima corria um córrego com águas limpas com uma pequena cascata. Chamada de Bica Molhada por todos que acamparam ali.

Os monitores escolheram seu campo e nós ficamos em um campo próprio não muito distantes deles. Esqueci de explicar que há mais de três dias fazia um frio horroroso em nossa cidade, e verificamos que ali no campo, na madrugada chegaria tranquilamente abaixo de zero. Principalmente próximo a lagoa.

Tudo transcorreu nos conformes.  À tardinha, ainda com sol, todos se lavaram junto ao lago, e nós fomos até uma bica bem abaixo, que corria em bambus formando uma ducha sem igual. Após o jantar, foi feito um jogo. Terminado a reunião como os monitores, cada um foi procurar o seu canto para dormir.

Já tínhamos se esquecido de tudo e eis que o chefe Trovão nos chamou a todos dizendo que o horário de três e meia era sagrado, não gostaria que ninguém faltasse ou chegasse atrasado. Nesta hora foi que nos lembramos do tal banho. Achei um absurdo. Um frio de rachar. Isto no inicio da noite. Acreditei que estava de seis as dez graus.

Já ia discordar quando o chefe Trovão me olhou enviesado e como estivesse lendo o meu pensamento, apontou para mim dizendo: - Sinto muito, quem faltar vou considerar como falta de “Espírito Escoteiro”. “Diacho” E agora? Como não podia fugir e os demais não comentaram, não falamos nada. Tínhamos enorme respeito pelo Chefe Trovão.

Dormi preocupado. Era o cúmulo do absurdo. Se isto era escotismo meu pai era um macaco falante. Não aceitava tal idéia ou tal imposição. Pensei que no outro dia juntaria minhas tralhas e iria embora. Mas meu filho estava ali. Seria uma falta muito grande e uma tremenda decepção para ele. O jeito era esperar a madrugada, pois achava que aquilo não passava de uma piada.

Não acordei às três e meia. Ninguém acordou. Não fomos chamados. Mas o Cléu um dos pais acordou dez minutos após e chamou a todos nós. Levantamos assustados, um frio de rachar. Enrolado em um cobertor nos reunimos em volta do que restava do fogo aceso frente às barracas. O chefe Trovão não estava na sua. Já tinha partido sozinho.

O que fazer então? Cada um deu sua opinião no final, resolvemos ir até a ducha e pedir desculpas ao chefe Trovão. Não era longe nem perto. Uns 400 metros abaixo da lagoa. Saímos tiritando de frio. Na trilha todos nós sentíamos calafrios. Não acredito em fantasmas nem em alma do outro mundo. Mas não sei por que, talvez o silencio, as arvores sombrias, sombras na lagoa. O medo me bambeava as pernas.

Pé ante pé avistamos a ducha (ficava uns 10 metros abaixo de nós) e vimos o chefe Trovão só de short, debaixo da ducha com as mãos levantadas, abaixando junto ao corpo e ficando em pé repetindo sempre, a rezar numa linguagem inteligível até que uma luz brilhante apareceu.

Olhe, estava tremendo igual vara verde. Nunca tinha visto nada igual. A luz foi aumentando e em poucos segundos, diversos vultos como sombras também lá estavam saudando o chefe Trovão. “Deus do Céu” que era aquilo? Ainda não tinha visto nada. O chefe levantou as mãos para o céu e ficou acima do chão uns dois metros continuando sua reza e os vultos numa espécie de dança ficaram rodando em sua volta.

Um grande redemoinho foi formado. Não vi mais os vultos e o chefe Trovão. A luz brilhante começou a faiscar, lançando raios para todos os lados. Fugimos dalí, esbaforidos, tremendo, alguns garanto que tinham molhado os pijamas, ninguém falou nada, todos queriam ir à frente e ninguém atrás.

Cada um entrou em sua barraca, ofegando, esperando a calma chegar. Que nada, a tremedeira não passava. Não estávamos acostumados com isto. Os minutos foram passando, estávamos acalmando e eis que bem no inicio da trilha, pela fresta da barraca avistamos o chefe Trovão.

Com um short curto, a toalha jogada nos ombros, assoviava alegre o “Acampei lá na montanha”. Parecia estar em uma praia num escaldante verão. Não mostrou curiosidade em saber se estávamos acordados. Fez uma pequena ondulação com o corpo, mexeu com os braços e se dirigiu a sua barraca. Ao entrar se voltou e abanou as mãos em direção a mata. Nada vimos.

No dia seguinte levantamos calados. Poucos conseguiram dormir. O acampamento cumpriu seu programa. Os escoteiros alegres, os seniores com seu grito de guerra, enfim uma grande exultação de um programa que se não fosse o acontecido, poderia dizer sem similar.

Retornamos no dia marcado. O Chefe Trovão parecia o mesmo. Professor, tutor, instrutor, mas sempre quando nos encarava, um sorriso maroto brotava para logo mostrar sua carranca de chefão.

Na semana seguinte, notei que somente eu e mais dez pais ainda estávamos participando do grupo. Os demais mandaram as mães levar os filhos e avisar ao Chefe do Grupo que não poderiam continuar no movimento.

Não sei por que, não houve comentário. Parece que um pacto de silencio acometeu a todos. Eu mesmo nem com minha esposa falei do assunto e do acontecido. Acho que todos tinham medo de serem ridicularizados.

Mas acredito e disso não tenho nenhuma dúvida, que o Chefe Trovão tem um pacto com o coisa-ruim ou então com espíritos amigos, cuja visita recebe sempre no afamado “banho das três e meia e seu sabonete mágico”.

O porquê de seu convite pode ter alguma lógica. Se formos nada acontece e demonstramos disciplina em uma tradição, se não ele sempre está só para seus encontros maquiavélicos. Ele sabe que aqueles que viram seu ritual nada dirão. O medo de tudo o receio de represálias, seu estilo dominador nos faz esquecer o fato.

Continuo até hoje no escotismo. Sou escotista de tropa escoteira. O Chefe Trovão há alguns anos mudou de cidade. Não ouvi falar mais nele. Ninguém no grupo comenta o assunto. Dizem que o Chefe do Grupo também participa do ritual, mas eu não posso provar. Não vi. Quando me lembro dele, sem querer vejo chifres em sua cabeça. Deus me livre!

E a vida continua, falei por falar. Narrei por narrar. Não vi, não sei, não ouvi estou com os olhos fechados e minha mente não pensa. Esqueçam o que disse!

E quem quiser que conte outra...
"O pensamento positivo pode vir naturalmente para alguns, mas
 também pode ser aprendido e cultivado, mude seus pensamentos
 e você mudará seu mundo”
Norman Vicent Peale

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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