terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A MAIS LINDA CANÇÃO DE TODOS OS TEMPOS!


A mais linda canção de todos os tempos!
Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus...

Pessoas especiais deixam mais que saudades e lembranças, pois elas levam mais do que nosso pensamento... Levam uma parte de nosso coração!

                          Lembranças! Saudosas lembranças. Cicatrizes gostosas que ficaram marcadas para sempre. Estou aqui só, olhando o céu, sem nuvens, cinzento e minha mente volta no tempo, lembrando tudo que tive e vivi no Movimento Escoteiro. Fui abençoado por Deus, ele me proporcionou tudo isto, amigos maravilhosos, jovens esplêndidos, grandes amizades e uma fraternidade sem par. Conheci na pele tudo aquilo de maravilhoso que o escotismo me ofereceu. São situações típicas, horas de deleite, de meditação, de sorrisos, alegrias, felicidade e agora como nós, de lembranças, de tempos que se foram.

                          Tudo isto me vem à mente, quando coloco na minha vitrola antiga, um LP de Guy Lombardo, e fico a ouvir a suave melodia, a musica que toca em todos os corações escoteiros. Auld Lang Syne. Nada mais nada menos que a Canção da Despedida. Dizem que significa “velho longo, uma vez que” ou “muito tempo atrás”, ou então “como nos velhos tempos”. É um poema escocês, escrito por Robert Burns em 1788 e ajustada para uma tradicional melodia popular, bem conhecida no velho mundo.

                          Francamente não sei quem nos trouxe e quem adaptou tão maravilhosa letra para nós escoteiros. Claro, estava ouvindo em inglês, mas quantas saudades, quantas recordações. Ela toca profundamente. Bate fundo no peito. De vez em quando doem, outras vezes nos trás a certeza que vamos nos reunir outra vez, ali naquele fogo, crepitante, com o coração firme, ardente esperando que vai ter bis, vai repetir e vamos juntos, dizer: - Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus... Bem cedo, junto ao fogo, tornaremos a nos ver... Belo! Simplesmente belo. Não há como dizer outra coisa.

                           Meu nome? Chefe Joel Mistran Moraes, ex-chefe. Oitenta anos. Você não me conhece. Sou um antigo escoteiro. Hoje só vivo de lembranças. Um dos meus passatempos favoritos. Agora só vivo de recordações. Elas ainda me ajudam a viver. Foi um passado brilhante, saudoso, gostoso, O que mais este "Velho" tem? Tenho filhos, netos, e apesar das dificuldades do meu corpo não me obedecer mais, fico aqui imaginando e agradecendo a Deus por ter me dado tantas alegrias e poucos como eu podem lembrar-se de tantas e tantas passagens, de um tempo maravilhoso que já se foi.

                           Meu primeiro acampamento, quanto tempo, final da década de quarenta, Novo na patrulha, onze anos, lobinho de coração. Estranho no ninho. Medo, receio. Uma nova etapa. Sem minha Akela e o Balú para me proteger. Lagrimas brotaram quando fiz a passagem. Aos poucos fui acostumando. Ângelo o Monitor, grande companheiro. Até quando casei lá estava ele ao meu lado como meu padrinho. Algumas excursões, mas nada como este acampamento. Seis dias. Mata fechada. Selva para mim inóspita, Pânico no primeiro dia. Depois, barracas montadas, cozinha coberta, fogão suspenso, sala de refeições, fossas, Até WC fizemos!

                           Quando a noite chegava, estava em pandarecos. Mas orgulhoso. Era mais um deles. Ajudei, colaborei. Dormia o sono dos justos. Só acordava com alguém me chamando ou puxando meu pé. E de novo, vivendo com meus amigos, fazendo, construindo, aprendendo, brincando, aventuras maravilhosas. Escaladas (tremia) balsas, pistas de animais, mosquitos, predadores, escorpiões, cobras (que medo!), colher goiabas, mangas, abacate, nas mais altas árvores.

                            Quinto dia. Orgulho daquela patrulha, irmão das demais. Amigos, fraternos, uma chefia maravilhosa. Então a surpresa. Um Fogo de Conselho só da tropa. Senhor! Olhe, ficou marcado para sempre. Ria, cantava, batias palmas, pulava, corria, e então... E então... Todos deram as mãos em volta do fogo e começaram a cantar. A principio não conhecia a letra, aos poucos fui entendo. Meu Deus! Que musica maravilhosa! Tocou-me fundo no coração. Impossível agüentar a emoção. A primeira emoção. Onze anos e chorando. Lágrimas descendo no meu rosto. Mãos entrelaçadas, apertando uma as outras.  

                             Parou a canção. Final, fogueira crepitando, estrelas no céu. Vento frio, brisa no rosto, cheiro da terra, do capim meloso, grilo saltitando, vagalumes aqui e ali querendo mostrar seu brilho. Silencio. Lagrimas caindo, uns olhando para os outros, tentando disfarçar. Trombeta tocando. Reunir! Boa noite, Corte de Honra, oração. Fui para a barraca com um sorriso enorme! Deitei, coloquei as mãos debaixo da cabeça, olhava para o teto da barraca, ele desaparecia. Agora via estrelas piscando no céu. Chorei. De alegria, de saber que tinha encontrado amigos, irmãos e que agora pertencia a uma grande Fraternidade Escoteira. Agora eu era um deles, um escoteiro, um privilégio de poucos!

                              Foi a primeira grande emoção. A Canção da despedida marca. Vocês que me lêem sabem disto. Chorei depois muitas vezes. Era marcante. Não dava para esconder, que já participou sabe o que estou dizendo. Não sei explicar. Se dói se machuca se uma saudade gritante fala para nós, não perder as esperanças de que um dia voltaremos a nos ver. É uma situação inusitada. Se conta para um amigo ou amiga, eles riem. Acha que somos bobos, tolos. Não compreendem. Não entendem. Não sabem o que é isto. Nunca vão saber... Só nós, os privilegiados.

                             Centenas, talvez milhares de vezes participei com orgulho. Dizia a mim mesmo que não mais iria chorar. Engano. Bebê chorão! Sempre ali, lagrimas e lágrimas escorrendo no rosto, caindo e molhando o chão abençoado. É, escotismo, você marca. Como você não existe outro. Por isto te amo, te adoro, vivo para ajudar a todos, mas que orgulho em ser escoteiro. Aprendi ali, vivendo intensamente tudo aquilo que você tem. Sorrindo, cantando, Chorando! Sim mas sem nunca se esquecer das horas e horas maravilhosas que contigo passei.

                              Cresci. Me tornei adulto. Agora era chefe, Cursos, Acampamentos Nacionais, regionais, internacionais viagens, indabas, fóruns, congressos nacionais e internacionais. Conhecendo centenas e milhares de irmãos escoteiros. E em todos eles lá estavam os chorões. Choravam quando se despediam, alguns querendo ser durões, mas sempre uma pequena lágrima caindo, descendo devagar pelo rosto... Sempre cantando que não iriam perder a esperança, porque não era mais que um breve adeus...

                               A primeira vez, que chorei quando cantava, quando despertei para o escotismo, nunca esqueci e jamais, jamais mesmo esquecerei. Dizem que a primeira vez sempre marca e a gente nunca esquece. Mas teve outro marcante. No México, 1966. Convite para participar de uma festividade de  grupo, feito pelo grande amigo, escotista de coração enorme, amizade de encontros internacionais, Jamborees. Uma amizade sólida. Feita por quem pertence à fraternidade mundial. Juarez Benito Santos. Da cidade de Hermosillo, capital do estado de Sonora. 50 anos de fundação do Grupo Escoteiro. Vários outros grupos irmãos. Achei que dava para enrolar no idioma. Nada. Um paspalho era eu para entender o que diziam. Mas que disse que em acampamentos escoteiros precisamos disto? Parece que falamos um só idioma. Claro, somos iguais em todas as nações.

                              Nossa! Marcou mesmo. Incrível a amizade dos escoteiros mexicanos. Simples, leal, honesta, sem altivez, soberba. Que amigos! Tocaram meu coração. Mas quando chegou à hora da despedida! Ah! Não, não queria sair dali. Chorei copiosamente. Um marmanjo. Vinte e seis anos! Abrindo a boca, lagrimas e lagrimas descendo pelo rosto. E o pior, quando terminou a Canção da Despedida, vieram todos me abraçar, chorando também, dizendo, - No te vayas, te queremos, quédade nosotros... Quem agüenta? Me diga quem?

                             E o pior, no dia seguinte, a tomar o trem para a cidade do México, lá estavam eles na estação, barulhentos, amigos, abraçando, cantando canções típicas, e quando o trem foi se afastando, cantaram de novo a Canção da Despedida. Rapaz! Incrível suportar! Impossível! E repetiam, repetiam – No te vayas, te queremos, quédade nosotros! Marcou meu amigo. Marcou. Passageiros ao meu lado não entendiam. Um deles se aproximou. Be Prepared! Americano, boy Scouts. Incrível! Que movimento meu Deus!

                            O tempo passa. Tudo passa, só não passam as lembranças. Dizem que quem não as tem não viveu. A lembranças de tudo, do passado, de um grande amor, da perda de um amigo, de pais, irmãos, lembranças, lembranças... E claro, dos meus velhos tempos de escoteiro, bandeiras ao vento, para o acampamento de todo Brasil! Tempos que não voltam. Sorrisos, quando lembro não quero que a tristeza que me invade a alma volte. São lembranças lindas, maravilhosas de um tempo que já se foi...

                            Hoje, como sempre acontece às tardes, estou aqui sentado nesta cadeira de balanço, na varanda da minha casa, vendo edifícios de pedra, uma garoa, chuva miúda, caindo, molhando o asfalto, um transeunte ali correndo outro ali se escondendo para não molhar. Um pequeno cobertor nas minhas pernas, que tanto me ajudou, me levou a lugares nunca antes imaginado e hoje resolveram se aposentar. Minha respiração ofegante, o ar faltando, corpo sem graça, relutante, mas a mente! Ah a minha mente! Busca incessante! Errante! De tudo aquilo que já vivi.

                             Me desculpem os leitores, mas estou ouvindo Auld Lang Syne (A Canção da Despedida) e chorando. Minhas lágrimas não molham a terra, não há mais florestas onde posso ir cantar, viver. Mas olhem, sinto um enorme orgulho, fui Escoteiro! E serei escoteiro até morrer. Uma vez Escoteiro sempre Escoteiro! Felicidade de poucos e eu sou um abençoado por Deus! Me deu mais do que merecia! Sinto que meu corpo não obedece. Minha mente vai apagando. Meus olhos piscam querendo fechar. Uma dor aguda no coração. Não sei se e de saudades ou...

                             Se você leitor ou leitora pudesse materializar-se na frente dele, veria a alegria estampada no rosto daquele "Velho", vestido com sua camisa caqui, seu lenço de Giwell, preso pelo anel trançado, o chapéu de três bicos no seu colo, suas barbas brancas, cabelos brancos soltos na testa, olhos semicerrados, um sorriso nos lábios, o pulsar do seu coração parando, uma pequena lágrima que tentava correr pelo seu rosto, uma luz faiscante, brilhante saindo de dentro dele, dois lindos anjos ao seu lado, levando-o para grandes nuvens brancas no céu, e meu Deus! Uma grande Orquestra Sinfônica, regida pelo Santo Gabriel, tocando maravilhosamente “Auld Lang Syne”, e acompanhada pelo maravilhoso coro dos querubins, uniformizados, todos os uniformes de todas as nações, mãos entrelaçadas, num grande círculo de amor, vozes maravilhosas entoando em uníssemos...
            
             Porque perder a esperança, de nos tornar a ver...
             Porque perder a esperança, se há tanto querer.
             Não é mais que um até logo,
             Não é mais que um breve adeus,
             Bem cedo, junto ao fogo,
             Tornaremos a nos ver
    
  Vamos passando, passando, pois tudo passa / Muitas vezes me voltarei / As lembranças são trombetas de caça / Cujo som morre no vento.


                                 

Um comentário:

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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