quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O FANTÁSTICO VÔO DO PÁRA-QUEDAS AMARELO


O fantástico vôo do pára-quedas amarelo

“Se um homem dispuser de uma peça de pano impermeabilizado, tendo seus poros bem tapados com massa de amido e que tenha dez braças de lado, pode atirar-se de qualquer altura, sem danos para si”. A frase é de Leonardo da Vinci, considerado um dos primeiros projetistas de pára-quedas, invento que possibilitou ao homem realizar o eterno desejo de voar - mesmo que por alguns segundos.


                   Quando somos crianças temos sonhos, desejos e não nos preocupamos se será alcançado ou não. Basta sonhar. Criamos em nossa mente tudo aquilo que gostaríamos de realizar. Nada há ver com a história, mas quando minha mente me leva ao passado de criança, lembro-me da personagem de Dibs: em busca de si mesmo. (autoria de Virginia M. Axline) È a história de uma criança que lutou pra conquistar sua identidade através do processo psicoterápico. O Livro oferece uma visão daquilo que chama busca de si mesmo. No final Dibs consegue emergir como uma pessoa brilhante e talentosa. Um verdadeiro líder.

                  Eu estava com treze anos. Pertencia a patrulha da Raposa. Éramos sete. Uma felicidade sem par. Sem televisão, sem internet, ainda sem pensar nas namoradas a patrulha escoteira era nossa vida. Reuníamos praticamente todos os dias. Amigos dentro e fora do escotismo. Cuidávamos com cuidado de nossa intendência. Pobre claro. Pouca coisa – um lampião a querosene, panelas de alumínio doadas por nossas mães, uma machadinha um facão tudo conquistado a duras penas. Duas barracas de duas lonas era nosso céu nos acampamentos. Daquelas usadas pelo exército na década de trinta.

               Estavam velhas e por mais que cuidássemos elas estavam se diluindo. Não tínhamos mais o que fazer. Tudo que nos disseram para fazer fizemos. Estava difícil acampar. Lonas extras? Nem pensar. Um preço que não tínhamos como pagar. Um dia achei uma revista na casa de uma tia, e vi um lindo para-queda. Encantei-me com ele. Mas como ter um para nós? Seria uma grande barraca. Daria para armarmos facilmente e caberia todo mundo.

            Sabia que era um sonho. Cidade pequena, só um cinema, uma igreja, uma praça com um coreto, alguns ricos e a maioria pobres. Em nossos acampamentos de fins de semana perdíamos muito tempo montando abrigos naturais. Tínhamos uma técnica própria, mas mesmo assim perdíamos tempo na construção. Um dia, acho que foi em um domingo de sol, vimos um avião sobrevoando a cidade. Uma surpresa. Isto nunca acontecia. Só ouvíamos os roncos de um que passava todas as quartas feiras pela manhã.

           Em dado momento, vimos alguém voando fora do avião (um teco-teco). Um pára-quedas se abriu. O povo da cidade parou. Embasbacados todos olhavam para o céu. Que beleza! Que espetáculo! O homem do céu caiu bem na praça e um bêbado que todos chamavam de Sebastião Barrigada ajoelhou-se no pé do pára-quedista e gritou bem alto – Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Todos caíram na risada.

              Eu não tirava os olhos do para queda amarelo. Ele enrolou tudo com carinho e explicou que sua irmã iria se casar e ele não queria chegar atrasado. Por isto o salto no para-queda. Ele não iria decepcionar Mercedes. Conhecia-a. Irmã de Laudivino nosso sub. Monitor. Grande. Fui correndo a casa dele. Chamei os demais da patrulha. Conseguimos o para quedas. Arquimedes o irmão de Laudivino nos presenteou. Um presente dos céus!

             Levamos o pára-quedas para a sede. Todos os escoteiros do Grupo se juntaram a nós. Ninguém tirava os olhos dele. Chefe Jessé chegou mais tarde. Sorriu. Grande chefe! “Fazer fazendo” era seu lema. Abrimos o pára-quedas para conhecer melhor. Muitas cordinhas de nylon que não conhecíamos. Uma época de cordas de cânhamo. Aquelas de fibras nos faziam arregalar os olhos. Foi aberto o para quedas. Nossa sede ficava na entrada da cidade. Na estrada do Alvarenga. Próximo ao rio das Flores.

              Um pé de vento apareceu de uma hora para outra. Levantou o pára-quedas. Todos correram. Eu não. Agarrei-me as cordas. Amarrei-me em uma delas. Era meu sonho! Não iria perdê-lo nunca! Fui levantado no ar. O pára-quedas com a força do vento se elevou a vários metros de altura. Virei um menino voador. Um medo incrível, mas não larguei o pára-quedas. Fui elevado a mais de oitenta metros de altura. Não vi. Meus olhos se mantinham fechados. Pedia a Deus que não deixasse perder o pára-quedas.

            A cidade inteira viu o menino escoteiro agarrado ao pára-quedas. Não entenderam nada. Uma multidão seguiu o pé de vento e o pára-quedas. Ele desceu suavemente na baixada do cristão. Graças a Deus! O local não tinha árvores e era um descampado onde acampamos várias vezes. Não tive um arranhão. Todos bateram palmas. Abri os olhos e vi uma multidão em minha volta. Sebastião Barrigada estava lá – Louvado seja o menino filho de Deus! Disse.

             O pára-quedas deu uma linda barraca. Durou anos. Mesmo depois que fui para os seniores e finalmente os pioneiros, lá estava os raposas orgulhosos de sua barraca de pára-quedas. A única nas redondezas. Ninguém tinha. Só ela. A Raposa que nunca mais esqueci. Não sei o que aconteceu depois. Cresci, mudei de cidade, participei de outros grupos, mas acreditem, nunca mais esqueci o fantástico pára-quedas amarelo. Um sonho que se realizou!

Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos dos sonhos que tivemos dos tantos risos e momentos que compartilhamos...


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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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