sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Contos de fogo de conselho. A rebelião dos bichos.


Contos de fogo de conselho.
A rebelião dos bichos.

                    Tentei tudo para apaziguar. Não consegui. Tudo aconteceu na sede escoteira. Ela se tornou uma selva de tantos bichos, aves e peixes do Brasil. Como os peixes respiravam não me pergunte. Surgiram de todas as partes. Chegavam de ônibus, avião automóvel e até uma dupla de Elefantes chegou em um Helicóptero Esquilo e nem sei como caberam nele. Não, não era um treinamento para viajar na Arca de Noé. O motivo era outro. Eles na floresta se reuniram para eleger cada um da fauna brasileira. Deveria ser o mais douto, o mais sábio e o mais falante.

                   Fizeram questão que a escolha recaísse naqueles mais éticos e que demonstrassem ter caráter e entender o significado de lealdade. Afinal pretendiam dar uma lição de civilidade a algumas tropas escoteiras que não levavam a sério o nome de Patrulha que escolheram. Era uma revolta surda, mas educada, ficaram calados por muito tempo, mas tinham de tomar uma providencia. Não me deixaram entrar. – Aqui humanos não entram. Aceitei. Fiquei na janela assistindo. Vi chegando os papagaios, corujas, cisnes de todas as cores, gavião-carijó, águias, sem contar as duas onças, uma pintada e a outra parda. Centenas. O salão nobre ficou lotado.

                A Coruja-buraqueira foi eleita para presidir os trabalhos. Pedindo silêncio ela começou: – Pássaros, peixes e animais do meu país. Vocês já sabem o motivo desta reunião. Ainda ontem o Quatipuru veio reclamar para mim que nunca o escolheram como nome de Patrulha. O mesmo aconteceu com o Tucunaré, O Sagui de tufo branco e centena de outros. Fiz uma pesquisa na Internet e vi que os jovens não tem boa orientação de quem somos nós. A maioria deles só querem nomes pomposos e quase sempre retirados da fauna americana ou europeia. Adoram nomes em Inglês. E já vi Patrulha se chamando de “Challenger” aquela nave espacial.

               Se aqui copiam nomes de outras nações lá ninguém fala ou nomeia nome da fauna brasileira. Eles são autênticos. Uma palma estrondosa repicou no salão nobre. - Continuou a Mestre Coruja. - Temos que tomar uma providencia. Afinal se os escoteiros e seniores não nos escolhem, é melhor que façamos uma revolução e quando eles forem acampar, iremos gritar e infernizar a vida deles. As tais patrulhas de nomes esquisitos não terão mais nosso apoio. – Uma cobra venenosa, a Surucucu estava presente – Riu baixinho – Deixa comigo dona Coruja. Eu e a Cascavel do chocalho negro, damos umas mordidas e resolvemos logo este problema.

              Todos riram. – Não! Não é assim que vamos resolver. Precisamos estudar uma fórmula do que somos, mas educadamente. Olhem, só para ter uma ideia, vou convidar para um desfile aqui no palco alguns animais, aves e peixes que nunca foram lembrados pelos escoteiros. Que façam uma fila e vão passando em minha frente dizendo seu nome:

               - Começou o desfile. O primeiro a se apresentar foi o Veado Catingueiro, o Quatipuru, a Cotia, O Touro Nelore. Em seguida veio à raposa verde, a Jaguatirica, a Doninha amazônica, O Zorrilho, a Baleia Azul, O Golfinho, o Boto cor de Rosa, o Ouriço Preto, o Puma do Pantanal e o Macaco Prego. Cantando veio o Macuco, a Codorna Amarela, o Aracuã do Pantanal, o Mergulhão Caçador, o Maçarico Brasileiro, o peixe Tucunaré, a Traíra, O Piau, a Jacupemba, o Sagui de Tufo Branco e o Príncipe Negro. Receberam muitas palmas o Bugio, A Ema, a Iguana, a Garça Branca, o Boto Vermelho, o Tracajá, o Canário da Terra, o Tatu Peba, o Gaivotão, o Mutum de Penacho, o Cervo do Pantanal, o Jacaré Açu, o Mocó, o Tuiuiú, o Tucano, o Quati, O Beija Flor, o Tamanduá Bandeira, o Martim Pescador, O Lobo Guará, a Ariranha, a Arara Azul... Um desfile enorme. Todos tristes. Mais de cem bichos da fauna esperavam sua vez para o desfile dos sem Patrulha.

                 Foi o Beija Flor dourado quem tomou da palavra – Amigos e Amigas pretendo nunca mais beber do caldo açucarado que eles põem para mim nos campos de patrulhas. A Coruja Buraqueira concordou e disse: Eles não me verão mais nos galhos próximos aos Fogos de Conselho. O Canário Belga falou lá no fundo do salão: - Eles nunca mais me verão cantar nas madrugadas. Era uma choradeira só. – Vamos tomar uma posição rosnou alto a Onça Pintada. Vamos dar uma surra neles quando forem acampar!

                 – Todos riram, mas foram interpelados pela Coruja Buraqueira. Vamos fazer um abaixo assinado. Quando o próximo sábado chegar, entregaremos uma copia a cada Patrulha que for a reunião. Cada um de nós que tem asas fica responsável. E assim foi feito. Levaram para as patrulhas do Brasil, um abaixo assinado com mais de 5.000 assinaturas dos bichos da fauna Brasileira. Escreveram suas insatisfações com a escolha de nomes estrangeiros para as patrulhas e porque não se lembraram deles.

                   Fui embora tristonho. Eles tinham razão. Não só nos nomes de patrulhas, mas também nas tropas e nos grupos. Chegaram ao ponto de copiar uniformes e chapéus esquisitos. Deu-me uma sensação de vazio por dentro. Que sabe daqui para frente, muitas Patrulhas novas irão pesquisar mais a Flora e a Fauna Brasileira? Seria verdade? Não sei. Seria bom se elas pudessem dar valor ao que é nosso, pois se não fizermos isto desde criança, ninguém lá fora vai fazer por nós. Ficaram de marcar nova reunião. Desta vez com a presença dos nossos heróis, nossos poetas, aqueles que temos orgulho de ser brasileiro. Quem sabe um dia tudo isso vai mudar?  


Nota - O escotismo brasileiro está adotando muito dos que os escoteiros de outras nações fazem. A onda agora é ser chamado de Scout. E os nomes das patrulhas? Os gritos de tropa e de grupo? Sempre a copiar o que fazem lá fora, basta ver a vestimenta. Colada nas vestes dos scouts americanos. Divirtam-se com esta revolução dos bichos que nunca aconteceu, mas seria bom demais se tivesse acontecido! 

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