sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Contos e lendas da Jângal. Os lobos não uivam sozinhos!



Os lobos não uivam sozinhos!

Prezada Akelá Mércia.
Melhor Possível!

Desculpe a letra e meus erros. Estou tremendo muito para escrever esta cartinha. A senhora sabe que estou muito fraco e sentar e um tremendo sacrifício. A Enfermeira Lola está me ajudando. Se não fosse ela não iria conseguir escrever. Minha mãe está aqui também, mas chora tanto que não tem condições de me ajudar. Porque choram? Afinal não vamos todos morrer um dia? Sem que quando nascemos é festa é alegria, na morte não. A Enfermeira Lola diz que é uma mudança de plano. Ainda não entendo muito disto, mas acredite os anjos que me visitam me disseram que está chegando a hora de partir.

Eu não conhecia os lobinhos anjos hoje muitos deles são meus amigos. Contam-me histórias, cantam canções e precisa ver a Vovó Matilde que vem lá do céu e me enche de abraços. Ela disse que meu lugar no céu está reservado. Não sei que lugar é este, mas deve ser lindo para eles sorrirem tanto. Já disse para a mamãe, mas ela não entende o que eu digo. Papai está na França e disse que vai chegar em breve. Nesta cartinha faço pedidos. Pode me ajudar?

Eu confio na senhora. Eu vivia tristonho na minha casa, não saia, médicos dizendo para ficar em repouso. Meu padrinho o Chefe Alaor me contou dos lobinhos. Convidou-me para ser um. Akelá Mércia foi demais quando a conheci. Na alcateia vivi os melhores momentos da minha vida. Eu gostava da Escola, mas muito cansativa. Como foi gostoso lobear, cantar jogar e aprender a ser um Mowgly. Pode dar um recado para o Balu Roberto? Diga a ele que deixe de fazer cara de mau, ele é bom, tem de sorrir mais e eu o adorava.

Diga também para a Bagheera Renata que sempre chorava quando estava ao meu lado. Muitos choravam e isto me entristecia. Queria ser como Mowgly, nos tempos das falas novas, quando a primavera chegava, as flores nasciam o vento soprava e todos corriam pelos campos sorrindo e cantando na embriaguez da Primavera.

Dê um abraço apertando na Aninha a prima da minha matilha. Ela não entendia muito minha fraqueza, mas era uma das poucas que sempre me deu apoio. Diga ao Nonô que eu o quero muito e não fiquei bravo com ele quando pegou meu chocolate na mochila. Sabe Akelá Mércia. Eu adorava o Grande Uivo. Sempre Sonhei ver a senhora olhando para mim para que eu pudesse ser o convidado. Seria demais. Uma honra que jamais iria esquecer. Não houve oportunidade e eu entendo. Outros lobos mais antigos tinham este direito.

Fiquei triste quando o Kaa Rogerio foi embora, sabe eu morria de rir quando ele queria imitar a velha serpente da Selva de Mowgly mas rastejava muito mal. Risos. Ele nunca imitava bem uma serpente. E quando dizia que somos do mesmo sangue tu e eu adorava. Dava gargalhadas e rolava no chão de rir. Desculpe Akelá Mércia, acho que vou parar. Cansado Akelá. Sinto-me Velho e fraco igual ao Chefe Tadeu que cantava dizendo que precisava voltar a Gilwell. Será que lá em Gilwell eu iria me recuperar?   

Akelá Mércia saiba que a senhora foi minha segunda mãe. Ajudou-me, me abraçou e me beijou tanto que um dia fiquei sem ar. Kkkkkk. Estou aqui sorrindo e mamãe chorando e a enfermeira Lola com os olhos cheios de lágrimas. Saiba que a amo muito, que a senhora com a sua bondade me transportou para os campos verdes de Waingunga. Nunca esqueci o que a senhora disse que os vales da Alcateia de Seeonee eram verdes na primavera, lilás no inverno, dourado no outono. A senhora dizia que era o vale mais lindo nas terras de Mowgly.

Também nunca esqueci o que Baloo o urso pardo dizia para nós que a lei da Jangál vigora na selva e é antiga como o céu. Que assim como cipó que envolve a árvore a lei do Lobinho envolve a todos nos... – Desculpe Akelá Mércia, sou a enfermeira Lola, Adriano desmaiou. Já chamamos o Doutor Luiz. Estou enviando a carta, pois ele insistiu muito que eu a enviasse!

- Mércia lia e chorava. Um choro convulsivo que ela não sabia como parar. Sua família e os vizinhos acorreram a sua casa. O que houve? Alguém contou da carta. Ela recebeu a carta pela manhã, e um telefonema informava a morte de Adriano. Ela sabia que isto iria acontecer, mas sabia também que era humana, acreditava em Deus, rezava para Jesus ajudar, mas o Doutor Luiz disse que ele iria para outros planos em breve. Não tinha mais como reverter o câncer no pulmão. A sala onde ela estava ficou cheia de amigos e chefes da Alcateia.

- Muitos lobinhos vieram para saber sobre a morte de Adriano. Todos sabiam que o lobo não perde os dentes, não perde a raça, eles sabiam que os lobos mansos vivem em rebanho para se protegerem. Sem ninguém esperar um clarão transformou a sala mostrando uma linda pradaria nos verdes campos de Seeonee. Adriano apareceu de uniforme com muitos Anjos lobos juntos. Sorria, fez um sinal e com sua vozinha meiga disse: - Akelá, os lobos não uivam sozinhos. Estou seguindo com meus anjos e lobos para minha caverna na Jangál. Os lobos de Seeonee me esperam. Quem sabe um dia volto? E uma grande palma escoteira ecoou nas terras dos homens, pois lá na Jangál o povo livre sorria ao receber Adriano!

Nota: - Gosto desta história. Quando a escrevi passei horas lendo e revisando e... Chorando. Choro muito. Poderia mudar o final, mas valeria a pena? – E volto meu pensamento para Akelá, em reunião na Pedra do Conselho dizendo: Que direito você tem? Shere Khan levantou a cabeça altivamente. Hathi narrou cabisbaixo; É uma historia antiga, tão velha quando a própria selva. Mas essa é outra história... Um conto emocionante. Para os fortes, pois os sensíveis irão chorar...

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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