sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Contos ao redor da fogueira. João.


Contos ao redor da fogueira.
João.

                    Acampado próximo do Rio das Almas, patrulhas correndo para terminar a montagem do campo, eu estava na beira do rio vendo as águas modorrentas daquele a quem chamavam de Rio Tristonho, sem corredeiras, cascatas e cachoeiras forçando minhas memórias de quantos acampamentos eu fiz. Podia não ser um Rio bonito, mas tinha força para vencer os vales daquela montanha até atingir sua foz do Rio Doce. Uma luz piscou na minha mente e me lembrei do João. Quanto tempo? Não lembro.

                 João era Monitor da Tigre. Se era um bom Monitor eu prefiro não comentar. Estava sempre reclamando. Eleito por quatro votos a três não era unanime na patrulha. Alguns patrulheiros me procuraram para trocar de Patrulha. Chefe desculpe, não dá. Prefiro deixar o escotismo! São coisas que nós chefes aprendemos com o temo a tomar uma decisão. Trocar? Mas não teve a maioria? Pelo sim pelo não o deixei o João continuar Monitor.

               Pela manhã do segundo dia, logo após a inspeção geral lá vinha ele subindo a trilha do campo da chefia. Sempre fazia isso quando sua Patrulha não ia bem ou perdia na inspeção. Eu já imaginava que ele ia dizer. Quantas vezes me procurou para reclamar? Perdi a conta. Sempre o motivam, ensinei a ele sobre liderança e nada. Cada dia dava a ele uma nova oportunidade. Tentava mostrar o caminho que um bom líder deve seguir.

                   – Chefe! Não dá mais. A Patrulha reclama, não anda e nada sai. Culpa de Pedrinho não ajuda e se acha o tal. De valente a mariquinhas. Está a chorar e quer a mamãe! O Senhor devia colocar ele na Raposa. Ponte Alto é um Monitor durão. Eu não! - Sem querer ri baixinho. Novatos são sempre assim na primeira noite. João quer desistir de ser Monitor? Ele me olhou de cabeça baixa e disse não. 

                  - João, Pedrinho não é o primeiro. Você mesmo foi assim quando aqui chegou. Lembras? Estava escurecendo e você a chorar pedindo mamãe, querendo biscoito e não sei mais o que. Quem lhe deu atenção amor, amizade assistida por toda uma noite e é até hoje seu amigo e irmão?

– Nereu o meu antigo monitor Chefe.

                – Pois é. Não aprendeu? Lembra-se do que ele disse a você naquele dia?

- João lembrava nunca esqueceu. Eram frases lindas que ele ouviu atentamente. – Nereu com voz calma e contagiosa, me disse: - João em casa minha mãe leu para mim um frase do Chico que aplica a você. Quer ouvir? - “Se você pode ajudar em auxilio de alguém, faça isso agora. Enriqueça o seu vocabulário com boas palavras. Aprendendo a escutar, você saberá compreender”. Nereu foi para ele o sonho que ele queria ser.

               - João sorriu. Ele ainda tinha um enorme caminho a percorrer. Voltou para o campo dos Corujas agora sabendo o que tinha de fazer.

              - Pensei comigo: - Algumas vezes coisas difíceis acontecem em nossas vidas para nos colocar na direção das melhores coisas que poderíamos viver.

Nota - Não basta ser chamado de Monitor. Não basta gritar para formar, apresentar ao Chefe sua Patrulha. Monitor é aquele que sabe ser amigo e irmão dos demais, aquele que sabe liderar e ser liderado, não só na presença do Chefe, mas sim em qualquer hora ou lugar.

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